Agostinho Da Silva - Frases de Agostinho Da Silva - Acerca de Agostinho Da Silva

Agostinho da Silva (1906- 1994) – Breve biografia

"(...) O que acontece é que não acredito no valor dos meus trabalhos, nem ter, para eles, qualquer espécie de êxito comercial. Além de tudo, o meu ideal agora é de não ser falado. Acontece, por outro lado, que considero tudo o que escrevo ou escrevi de domínio público: Tudo está à disposição de todos. Quanto a exemplares de livros meus - a verdade é que não tenho nenhum"

  • Agostinho da Silva, "Correspondência"

Um dos maiores filósofos da Língua Portuguesa! Tanto há a falar sobre ele que vamos lançar o desafio que comentem o que mais gostam no Agostinho da Silva.
Nascido na cidade do Porto, George Agostinho Baptista da Silva demonstrou desde cedo grande curiosidade e amor pelo conhecimento.
O seu percurso académico foi notável. Na Faculdade de Letras da Universidade do Porto concluiu, no ano de 1928, com 20 valores, a sua licenciatura em Filologia Clássica.
Um ano depois, doutorou-se com louvor, após defender a sua dissertação cujo título foi O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas.
Esteve em Paris, França, como bolseiro. Em 1931, estudou na Sorbonne e no Collége de France. Regressou a Portugal, onde lecionou no Liceu de Aveiro por dois anos. Em 1935, por se ter recusado a assinar uma declaração de fidelidade ao Estado Novo, foi demitido do Liceu de Aveiro (a Lei Cabral era obrigatória para todos os funcionários públicos).
Ruma à América do Sul, ao Brasil, passando ainda pelo Uruguai e pela Argentina, antes de se estabelecer em terras de Vera Cruz. É no Brasil que passa boa parte da sua vida. Nesse país, lecionou e contribuiu de forma aprofundada para a fundação de universidades, escolas e centros de investigação.
Morreu em Lisboa, a 3 de abril de 1994.
Alguma bibliografia relevante
Sentido histórico das civilizações clássicas; Vida e Morte de Sócrates; A Vida de Francisco de Assis; Sete Cartas a um Jovem Filósofo; Uns Poemas de Agostinho.

“A única coisa que não se deve ter na vida é medo. Para o resto há sempre remédio”

  • Agostinho da Silva, Lembranças Sul-Americanas, pág. 73

Curiosidades
– Agostinho da Silva não tinha bilhete de identidade, nem número de contribuinte.

– Não pagava impostos.

– Foi preso pela PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado).

– Naturalizou-se cidadão brasileiro.

"O grande defeito dos intelectuais portugueses tem sido sempre o só lidarem com intelectuais. Vão para o povo. Vejam o povo. Vejam como ele pensa, como ele entende a vida, como ele gostaria que a vida fosse..."
~ Agostinho da Silva

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Comentários

  • “A solidão é uma ocasião extraordinária de diálogo consigo próprio.”

  • “O homem não nasce para trabalhar, nasce para criar, para ser o tal poeta à solta.”
    “A pessoa deve encontrar-se a si própria e fazer todo o possível para que não haja uma uma discórdia consigo mesma.”
    “O que interessa na vida não é prever os perigos das viagens; é tê-las feito.”

  • “Quem fala de Amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama.”

  • “Não me interessa ser original: interessa-me ser verdadeiro.”
    “Como tudo é possível, ousemos fazer rumo ao impossível.”

  • “Entre as palavras e as ideias detesto esta: tolerância. É uma palavra das sociedades morais em face da imoralidade que utilizam. É uma ideia de desdém; parecendo celeste, é diabólica; é um revestimento de desprezo, com a agravante de muita gente que o enverga ficar com a convicção de que anda vestida de raios de sol.”
    “O mundo acaba sempre por fazer o que sonharam os poetas.”

  • Algumas observações interessantes do Agostinho da Silva:

    "No final de contas não tenho feito mais do que apresentar e repetir o que foi a obra e o pensamento de muitos portugueses do século XIII, de Camões, do Padre Vieira, de Fernando Pessoa, Não sou nenhuma espécie de génio ou de visionário."

    "Ideias que não podiam ser aplicadas no tempo em que ele viveram, mas podem ser agora. Não só para que Portugal se reinstale, para que volte a si próprio depois de ter sofrido a tal invasão europeia. Mas até para ajudar a Europa quando se fala de adesão de Portugal à CEE eu vejo aquilo como um desembarque na costa da Europa, para a ajudar, para ver se tem algum jeito depois de toda a confusão em que anda."

    "Para que a Europa conseguisse tanta da sua tecnologia teve que sacrificar muito da sua Humanidade."

    "A Economia Capitalista é a única que pode inaugurar a paz que é a de não haver carência para o mundo. É a única que pode desenvolver o mundo até às condições - pelo que sabemos da Arqueologia - em que não faltava nada para os Homens, em que estes percorriam o Mundo à vontade e tinham sempre que comer."

  • Um grande pensador! O professor "saloio".

  • “Do que você precisa, acima de tudo, é de não se lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição venha a pensar o mesmo que eu; mas nessa altura já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de não se conformarem”.
    Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo, 1945

  • "Não é quando se está em transe de amor, o único momento em que verdadeiramente se ama, que se escreve ou se compõe ou se pinta: é depois, quando o amor se abateu, quando reina o artista, […] e há do amor apenas a lembrança, quase uma reminiscência platónica, no sentido de que foi uma experiência que nos excedeu e de que só poderemos recordar fragmentos [...].”

    • Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, p. 240.
  • “E agora vamos lutar contra os dragões. O primeiro é o ideal de um produto bruto nacional sempre crescente e um sempre mais elevado nível de vida material. Neguemos tal ideal. O que queremos é que o produto nacional seja distribuído com justiça, isto é, com amor, e que a qualidade do nível de vida seja elevada.
    (...) O segundo dragão é a informação, desde a bisbilhotice e a escola até à imprensa e à televisão. O modo de lutar é dizer a verdade, e somente a verdade.
    (...) E eis que chega o terceiro dragão, o pior deles todos - a nossa tendência de pertencer a grupos, de ter um partido político ou uma igreja que pense por nós, de consultar ou seguir professores e gurus, numa palavra, de engolir a vida como criança chupa o leite do biberão. Na realidade nós somos piores, porque no nosso caso o leite já está digerido. Está alerta em relação à dinâmica de grupos. (...) Podes, e deves, ter ideias políticas, mas, por favor, as tuas ideias políticas, não as ideias do teu partido; o teu comportamento, não o comportamento dos teus líderes; os interesses de toda a humanidade, não os interesses de uma parte dela. E lembra-te que "parte" é a etimologia de "partido"".

    • Agostinho da Silva, Os Três Dragões (1973)
  • "Nada peças nem perguntes, inventa o mundo“

    • Agostinho da Silva
  • “Mas essa coisa de se chamar a certos sujeitos pensadores, como se os outros não pensassem, ou de se dizer ‘ele é um intelectual’, e os outros, o que é que são? Os outros também são intelectuais, olha que história! (...) Gente pensa. Gente é intelectual.”

    • Agostinho da Silva, O Império acabou. E agora?, 2000
      [entrevista de Antónia de Sousa, 1986/1987]
  • “Mas depois de nós darmos a liberdade a todos os homens ainda resta muita liberdade para dar. Por exemplo, a liberdade dos animais. Não temos direito de escravizar ninguém, pois não? (...) Mas nem só com os bichos. A terra pode ser agredida como nós a agredimos? (...) Quer dizer, podemos tirar a liberdade à paisagem do mundo?”

    • Agostinho da Silva, Vida Conversável, 2020, pp.294-295
  • "Tem a coragem de te não recusares ao milagre de ti próprio."

    • Agostinho da Silva
  • "Nenhum político deve esperar que lhe agradeçam ou sequer lhe reconheçam o que faz; no fim de contas era ele quem devia agradecer pela ocasião que lhe ofereceram os outros homens de pôr em jogo as suas qualidades e de eliminar, se puder, os seus defeitos".

    • Agostinho da Silva
  • "Crente é pouco.
    Sê-te Deus.
    E para o nada que é tudo
    Inventa caminhos teus."

    • Agostinho da Silva
  • "Temos, sobretudo, de aprender duas coisas: aprender o extraordinário que é o mundo e aprender a ser bastante largo por dentro, para o mundo todo poder entrar".

    • Agostinho da Silva
  • "O homem tem preguiça, em geral, de pensar todo o pensável e contenta-se com fragmentos de ideias, recusa-se a uma coerência absoluta. Não leva até ao fim o esforço de entender. E, exactamente porque não o faz, toma, em relação à sua capacidade de inteligência, uma absurda posição de orgulho. Compara o pouco que entendeu com o menos que outros entenderam, jamais com o muito que os mais raros puderam perceber"

    • Agostinho da Silva, As Aproximações
  • "Provavelmente ainda levará muito tempo para isso, mas tenho esperança, tenho esperança de que se estabeleça na Terra um paraíso terreal, de que, pela meditação, os homens cheguem a um tempo em que o paraíso terreal e o espiritual, o do Céu, sejam exactamente a mesma coisa - a tal história de que já falámos da Ilha dos Amores de Camões, em que o homem deixa que brote de si tudo quanto é de possibilidade divina ao mesmo tempo que não perde nada da sua humanidade, o que significaria, no fim de contas, um regresso de Adão e Eva ao Paraíso"

    • Agostinho da Silva (com Henryk Siewierski), Vida Conversável, Zéfiro, 2020, p.186.
  • “Divino espírito santo
    senhor do imprevisível
    me toma pois da verdade
    só quero o que for incrível.”

    • Agostinho da Silva
  • “Talvez chegues tu a ver
    que só o nada é real
    e que a partir de não ser
    te construirás total.”

    • Agostinho da Silva
  • "Ontem sonhei que sonhava
    e me mantinha desperto
    contente por me escapar
    de um mundo que me era incerto
    seguro porque voltava
    ao que é lógico e real
    à vida que firme sabe
    do que é bem e do que é mal
    quando tornei a dormir
    já rompia a madrugada
    e na clara luz não tinha
    certeza alguma de nada."
    ~ Agostinho da Silva

  • "Não lutes por entender
    não te batas por cumprir
    e um dia a noiva celeste
    te chama para dormir
    e te embala nos seus braços
    e sobre nuvens te deita
    e todo o teu coração
    fecha em sua mão direita"
    ~ Agostinho da Silva, Uns Poemas de Agostinho

  • "Simplesmente, querido Amigo, o amor existia dentro dele, não por fora. Quem fala de Amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama [...].
    O que lhe dizia, caro Amigo, é que me parece que ao verdadeiro Amor corresponde o silêncio; a perfeita vibração diante de uma flor ou de um pôr-do-sol ou de uma libélula sobre as águas de um ribeiro ou, o que mais vale, diante de uma mulher, traz consigo uma inibição de todas as funções de relação; não se diz nada à rosa, não se diz nada à mulher e, com muito mais razão, não se diz nada aos amigos [...].
    Os mais fracos correm diante das suas emoções uma porta ondulada de ironia. Os mais fortes, porém, e eu desejo que você seja dos mais fortes, encerram-se num palácio de silêncio."

    • Agostinho da Silva, SETE CARTAS A UM JOVEM FILÓSOFO (1945), TEXTOS E ENSAIOS FILOSÓFICOS I, Âncora Editora, 1999, pp. 239 - 241
  • "O Templo terá de ser o mundo inteiro"
    ~ Agostinho da Silva, in José Flórido, Um Agostinho da Silva. Correspondência com o Autor, Lisboa, Ulmeiro, 1997, p.135.

  • "No Político, distingo dois momentos, o do presente e o do futuro. Principiando pelo segundo desejo o desaparecimento do Estado, da Economia, da Educação, da Sociedade e da Metafísica; quero que cada indivíduo se governe por si próprio, sendo sempre o melhor que é, que tudo seja de todos, repousando toda a produção por um lado no amador, por outro lado na fábrica automática, que a criança cresça naturalmente segundo suas apetências sem as várias formas da cópia e do ditado que têm sido as escolas, públicas e de casa, que o social com suas regras, entraves e objectivos dê lugar ao grupo humano que tenha por meta fundamental viver na liberdade e que todos em vez de terem metafísica, religiosa ou não, sejam metafísica. Tudo virá, porém, gradualmente, já que toda a revolução não é mais do que um precipitar de fases que não tiveram tempo de ser. Por agora, para o geral, democracia directa, economia comunitarista , educação pela experiência da liberdade criativa, sociedade de cooperação, e respeito pelo diferente, metafísica que não discrimine quaisquer outras, mesmo as que pareçam antimetafísicas. Mas, fora do geral, para qualquer indivíduo, o viver, posto que no presente, já quanto possível no futuro: eliminando o seu supérfluo, cooperando, aceitando o que não lhe seja idêntico - e muito crítico quanto este -, não querendo educar, mas apenas proporcionando ambiente e estímulos, e procurando tão largo pensamento que todos os outros nele caibam. Se o Futuro é a Vida, vivamo-la já, que o tempo é pouco: que a Morte nos colha vivos, e não, como é hábito, já meio mortos; aliás, suicidados."

    • Agostinho da Silva, PENSAMENTO À SOLTA, TEXTOS E ENSAIOS FILOSÓFICOS II, Âncora Editora, 1999, pp. 175 e 176
  • "Não me preocupa no que penso nem a originalidade nem a coerência. Quanto à primeira, tudo aquilo com que concordo passa a ser meu — ou já meu era e ainda se me não tinha revelado. A minha originalidade está só, porventura, na digestão que faço. Pelo que respeita à coerência, bem me rala; o que penso ou escrevo hoje é do eu de hoje; o de amanhã é livre de, a partir de hoje, ter sua trajectória própria e sua meta particular. Mas, se quiserem pôr-me assinatura que notário reconheça, dirão que tenho a coerência do incoerente e a originalidade de não me importar nada com isso"
    ~ Agostinho da Silva, Pensamento em Farmácia de Província, 1 [1977], in Textos e Ensaios Filosóficos II, p.319.

  • "Imortais somos, porque o tempo é consubstancial do eterno"
    ~ Agostinho da Silva

  • "Não há fim supremo para o homem que não seja o de se ver absorvido pelo Deus que o habita"
    ~ Agostinho da Silva

  • “Meu amigo, casos excepcionais é tudo o que há no mundo. Cada um de nós é inteiramente excepcional. Não há nenhum homem igual a nós em todos os bilhões que existem, nem fisicamente, nem mentalmente”

    • Agostinho da Silva
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