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Um corsário português: Joseph Almeida

Nascido nos Açores em 1777, desembarcara em Baltimore em 1796 em busca de riqueza, como tantos outros. Chamava-se José Joaquim Almeida e tomou a cidadania norte-americana na viragem do século. Conhecedor dos segredos do mar e da navegação, ganhou bom nome pela perícia de marítimo e fiabilidade de transportador. Ao comando da sua escuna Caroline, dedicou quase uma década aos fretes comerciais, percorrendo a costa americana, de Baltimore à Florida, das Bermudas às Caraíbas e às possessões americanas da Coroa espanhola, amealhando experiência, contactos e conhecimentos que o reputaram como um lobo-do-mar digno de confiança.
Ao deflagrar a guerra anglo-americana de 1812, ofereceu os seus serviços à embrionária marinha dos EUA. Propunha-se actuar como corsário e interceptar os transportes britânicos destinados ao Canadá. Tratava-se, evidentemente, de uma actividade perigosa, pois para corsários, agindo ao arrepio das leis da guerra, não havia qualquer esperança caso fossem capturados pelo inimigo. Aplicava-se-lhes sem apelo a pena de morte por enforcamento, e ao Estado que patrocinava cumpria guardar o máximo segredo e simular completo desconhecimento sobre a relação que o governo havia estabelecido com o predador dos mares.
Ao corsário cabia, antes de mais, aparelhar uma embarcação, contratar marinheiros aptos para o mar e com experiência militar, lançar-se ao mar, interceptar navios britânicos, tomá-los de assalto e forçar a sua rendição, sem contudo danificar ou afundar as presas, por forma a capturar a sua carga. Seguidamente, rumava ao porto amigo mais próximo, onde era desembarcado o produto do saque e realizado um leilão, cuja receita era destinada ao capitão corsário, à tripulação e ao governo dos EUA. Como capitão da Caroline, e posteriormente da escuna Kemp, Almeida capturou trinta e cinco navios britânicos, amealhando um fabuloso pecúlio de 300.000 dólares em prémios líquidos.
Ao terminarem as hostilidades, em 1815, Joseph Almeida (assim agora chamado) deveria ter razões para exultar. A fortuna que acumulara ter-lhe-ia permitido uma vida desafogada e sem preocupações na companhia da sua mulher Teresa Ana e dos seus dois filhos, mas Joseph não conseguiu conviver com a monótona vida de capitão de um navio mercante. Fervilhava-lhe a necessidade de acção, pelo que foi com grande alegria que recebeu o convite para voltar ao corso, agora ao serviço dos revoltosos sul-americanos em guerra contra a Coroa espanhola. E nunca mais parou, assaltando ao longo da década seguinte navios mercantes espanhóis, franceses, britânicos e até portugueses, assombrando as rotas comerciais, circulando como um tubarão em busca de vítimas.
Finalmente, após desafiar impenitentemente o destino, foi capturado em 1829 ao largo de Havana (Cuba), levado a tribunal e condenado à morte, sendo a sentença executada em 1832.
Para saber mais:
Gordon S. Brown - Latin American Rebels and the United States, 1806-1822. Jefferson: McFarland & Company, 2015.
Jeffrey Orenstein - Joseph Almeida: portait of a privateer, pirate and plaintiff. In The Green Bag, Inc, 2007, Volume 10 • Number 3.
in Nova Portugalidade

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