AS “APARIÇÕES” DE FÁTIMA, 1917 – ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO

Um artigo interessante para quem gosta do assunto:
AS “APARIÇÕES” DE FÁTIMA, 1917 – por Joaquim Fernandes
ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO

A “Senhora vestida de branco” tem uma milenar cronologia e, antes de Fátima e de 1917, estão registados alguns milhares de alegadas “aparições” marianas. A tradição ocidental reivindica uma primeira manifestação da Virgem Maria de Nazaré, ainda em vida desta, no dia 12 de Outubro do ano 40 da era cristã, em Saragoça, norte de Espanha, ao apóstolo Tiago, irmão de João Evangelista. Neste caso tratar-se-ia de um fenómeno de bilocação (estar em dois lugares em simultâneo), em que “a Virgem aparece acompanhada de anjos, sentada num trono de luz, circundada por nuvens diáfanas no momento em que Tiago orava”.

Daqui nasceria o culto a Nossa Senhora do Pilar, na sequência do habitual pedido de edificação de um templo com aquela inovação.

A crença nas “mariofanias” (aparições de Maria), como sustenta a historiadora francesa Sylvie Barnay remontaria ao ano 380 da era cristã e proviria sobretudo do Oriente grego. Com fundamentos ponderosos: é que, na paisagem cultural da Ásia Menor, perdurava de há muito a tradição das deusas-mães, ecos dos cultos da fertilidade e que serviu de fermento à potencial piedade mariana, segundo o teólogo Hans Kung.

O “pai da igreja” Gregório de Nissa (m. 397) é tido como o fundador da crença, introduzindo no ocaso da Antiguidade um modelo de narrativa que se iria desmultiplicar nas torrenciais hagiografias e vidas santificadas, nos séculos vindouros quando contaminou toda a Idade Média europeia ocidental. Os “visionário” eleitos são-no de todo o jaez: homens e mulheres de “santidade e virtude” na reclusão conventual, mas também poderosos arrogantes, mendigos e doentes, pecadores sem perdão. A todos, a imagem da Virgem Maria surge como intermediária, espelho do próprio Deus, em cada interlocutor-vidente medievo, dos seus sonhos e desesperos.

Fonte:athena.pt/2017/05/11/116/

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