Os portugueses do Oriente que governaram o Oriente
As potências europeias que passaram pela Ásia - britânicos, holandeses e franceses - jamais conseguiram a notável obra de engenharia social operada pelos portugueses, posto que nos séculos em que por ali exerceram poder, se manteve sempre uma barreira intransponível entre a massa da população nativa e a elite governante. Ao contrário, uma das características da organização social do império português no Oriente residiu no facto de a elite ali dominante ter sido, do século XVI ao século XX, quase exclusivamente de extracção e nascimento local. Estes luso-asiáticos, católicos pela religião e portugueses pela cultura, eram conhecedores profundos do meio, estavam imbricados nos ritmos, sensibilidades e culturas envolventes, pelo que administraram a periferia imperial com grande desembaraço, evitando conflitos desnecessários e agindo como pontes entre a Europa e a Ásia. Assim se explica a durabilidade do império e a profunda impregnação que Portugal deixou por terras do Oriente. Têm os genealogistas Jorge Forjaz e José Francisco de Noronha desenvolvido importante trabalho de levantamento destas linhagens familiares, pelo que a consulta de Os Luso-descendentes da Índia Portuguesa constituiu leitura obrigatória para quantos queiram compreender a especificidade de uma identidade luso-indiana ainda hoje muito vincada em todos os territórios outrora pertencentes à Coroa portuguesa.
Exemplos há-os aos centos, pelo que ao acaso retiramos o de uma figura notável do século XIX. Filho de goeses - o seu pai era fidalgo cavaleiro da Casa Real que ocupara funções como governador da Índia portuguesa e depois governador de Macau - Cândido José Mourão Garcez Palha (1810-1873) nasceu em Goa, ali cursando o curso de engenharia militar e exerceu funções como coronel do corpo de engenheiros do exército da Índia. Director da Escola de Matemática de Nova Goa, renomado astrónomo e meteorologista, foi igualmente governador de Damão. Pelos muitos serviços prestados, recebeu os graus de Comendador da Ordem de Cristo e de Cavaleiro da Ordem de S. Bento de Avis, sendo elevado a fidalgo da Casa Real e nobilitado com o título de primeiro Visconde de Bucelas.
Texto Nova Portugalidade