Nova Ordem Mundial Covid 19
Ex responsável de planeamento do Departamento de Estado norte-americano Edward Fishman avisou semana finda que as alterações forçadas pela pandemia irão levar ao estabelecimento de uma nova ordem mundial nos próximos um a cinco anos.
Este especialista disse que nesta transição será necessário planear com tempo e decidir quais são os princípios que políticos, líderes cívicos, cidadãos e empresas querem ver na nova ordem mundial, que poderá trazer uma economia mais equitativa. “Estas transições são muito raras”, disse.
“É muito importante que não estraguemos esta oportunidade”, apelou. “Estou convencido de que este será um momento de transição”, sublinhou o especialista, que é investigador não residente do Conselho do Atlântico e investigador adjunto do Centro para uma Nova Segurança Americana, falando numa sessão organizada pela Associação de Correspondentes Estrangeiros nos Estados Unidos da América.
“Temos um desejo inerente de voltar à normalidade e uma nostalgia para regressar à vida pré-pandemia”, anotou. “É importante aceitarmos que não haverá um regresso ao normal e que uma crise desta magnitude não desaparece simplesmente de um dia para o outro”, reconheceu Edward Fishman.
Fishman, que trabalhou como conselheiro para o Secretário de Estado da administração Obama, John Kerry, projectou uma nova ordem mundial com um sistema de dois níveis. Um nível global em que participam todas as grandes potências e um nível paralelo que reunirá o que descreve como democracias com afinidades, cujos princípios são semelhantes.
“O nível global tem de ter um âmbito estrito, focar-se apenas nos problemas de acção colectiva: alterações climáticas, cibersegurança e pandemias”, declarou o especialista. “O nível das democracias com afinidades deve focar-se em problemas mais divisivos e ambiciosos: desinformação, evasão fiscal e desigualdade”, disse. O antigo conselheiro fez saber que este momento deverá levar a uma “retirada ordeira e pensada da globalização”, frisando as “consequências muito negativas” que teve na sociedade, que o período pós-pandemia justifica a criação de cadeias de fornecimento alternativas (por exemplo para produtos farmacêuticos) e que as infra-estruturas devem ser construídas entre democracias com afinidades.
A aliança D10 proposta pelo Reino Unido para contornar a importância da China e da Huawei no fornecimento de equipamento 5G é, segundo ele, um exemplo disso. O estabelecimento do nível de democracias com afinidades não será, considerou, feito através de um único grande acordo ou conferência. “Estou céptico de que a nova ordem nasça num grande summit”, disse, referindo que haverá vários eventos importantes. Edward Fishman argumentou que este é o fim da ordem iniciada em 1945 após a Segunda Guerra Mundial e precisou que há várias lições a retirar da forma como essa — e a ordem anterior, de 1919 – foram criadas e conduzidas.