Poemas de Amália Rodrigues

ESTRANHA FORMA DE VIDA
Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.

Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.

LÁGRIMA
Cheia de penas me deito
E com mais penas me levanto
Já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto

Tenho por meu desespero
Dentro de mim o castigo
Eu digo que não te quero
E de noite sonho contigo

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile no chão
E deixo-me adormecer

Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar

O que interessa é sentir o fado. Porque o fado não se canta, acontece. O fado sente-se, não se compreende, nem se explica.
O fado esteve comigo desde sempre. Aos doze anos fazia chorar as pessoas que me ouviam cantar. A essa altura... acabava eu por chorar também.
O fado é um mistério. Nunca ninguém vai conseguir explicá-lo!
Não tenho medo da morte, porque tenho fé e, sobretudo, lucidez. Sou frágil nas pequenas coisas, mas forte nas grandes.
Há anos que pergunto o porquê daquilo que me acontece. Não sei bem...talvez por isso estou sempre a agradecer a Deus a vida que me deu.
Graças a Deus, eu sinto que tenho um amor muito grande dos portugueses, porque ando há 53 anos a cantar em Portugal e nunca desiludi ninguém. Eu sou o que sou.
Fui convidada para ficar em Espanha, França, Hollywood... nunca aceitei, não seria capaz de abandonar o meu país.
Estou sempre a dizer a toda a gente que não chego ao ano 2000.
Ai! Dessa noite o veneno / Persiste em me envenenar / Oiço apenas o silêncio / Que ficou em teu lugar / E ao menos ouves o vento / E ao menos ouves o mar.
Acho inúteis nossos corpos / Quando o desejo é certeza
Achavam que eu era melhor toalha que tinham em casa mas nunca me ajudaram a ser a Amália Rodrigues.

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