Quando Lembro de Chico Xavier [Youtube]
Quando Lembro de Chico
Chico Xavier é um homem do futuro!
Mais do que um registro histórico da intimidade do homem eleito
como a maior brasileira de todos os tempos, a Pozati Filmes apresenta neste documentário a pessoa de Chico Xavier como um exemplo viável para todos os seres que irão compartilhar o Mundo da Regeneração.Ao olhar para trás, com os amigos da sua intimidade, este filme faz com que o seu público em todo o mundo olhe para a frente, descobrindo o seu papel de protagonismo na construção de uma nova era.
Quando me lembro, Chico é um grande testamento audiovisual, não só dos exemplos de amor e fraternidade deixados por Chico, como os frutos das sementes espalhadas por ele no coração de alguns de seus amigos mais próximos.
Direção: Fabio Medeiros
Roteiro e Produtor Executivo: Juliano Pozati |
Duração: 1h20min | Recursos: Colorido, Widescreen, Português | Legendas: Inglês, Espanhol e PortuguêsConvidados: Geraldo Lemos Neto, Carlos Baccelli, Jhon Harley, Saulo Gomes.
Participação especial: Wanda Joviano, Guiomar Albanese, Nena Galvez
Ator Convidado: Victor Meirelles
Produzido por www.pozati.com
Comentários
Ele foi um espírito muito elevado, que recebeu
uma missão muito grande, e um grande amigo.
Nasceu simples.
Viveu simples.
Morreu simples.
Único homem que trabalhou durante 75 anos,
em favor de todos, menos dele.
Somente um espírito superior teria
essa presença espiritual.
O povo procurava Chico Xavier porque
sentia saudades de Jesus.
Eu não acreditava que fosse possível
de existir um homem como Chico Xavier.
Não acreditava. Eu achava que era um exagero
dos biógrafos, antes de conhecê-lo.
E eu costumo dizer hoje, em 21 anos de convivência,
se nós reuníssemos todos os biógrafos
pra dizer "Quem foi Chico?" Ele foi isso e muito mais.
Nos convenceu a todos, através
de 75 anos de dedicação.
Eu levei isso pra eles numa reportagem nossa e depois no programa “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos”.
O único homem que nós conhecemos no mundo
que trabalhou durante 75 anos,
em favor de todos, menos dele.
Eu costumo dizer em algumas de nossas palestras
que eu passei a acreditar na biografia dos Santos,
porque conheci Chico Xavier.
Porque as biografias dos Santos
parecem muito exageradas.
Exato.
Não é verdade?
Nós não convivemos com Francisco de Assis,
Teresa D'ávila, Vicente de Paulo,
mas convivemos com Chico Xavier e
sabemos que isso é possível.
E eu guardo um detalhe muito curioso. Um dia, Chico foi
receber um título de cidadania, em Catanduva,
aí, eu apresentei um jornalista espírita, Diretor de um
Centro Espírita, e esse colega, emocionado,
na hora em que apresentei o Chico,
falou, assim, uns 2-3 minutos, de tudo o que ele era.
O Chico, de repente, falou assim:
“Que Deus te abençoe meu filho, eu não sou nada,
eu sou a poeira que vocês levantam por aí”.
– E ele acreditava nisso, não é, Saulo?
– Exato.
– Ele não dizia por dizer.
– Exatamente.
– Ele acreditava que realmente fosse um cisco, né?
– Exato.
Dito por outra pessoa, seria uma ofensa.
Mas essa humildade dele é a humildade dos sábios, né?
Que têm certeza de que não sabem nada,
diante da grandeza universal.
Não é essa humildade falsa, de querer apresentar
uma coisa até por vaidade, não é?
Não. Era mesmo o sentido da humildade
verdadeira e por isso ele convencia.
Eu acho, Geraldinho, que isso inibia
um pouco o Chico, né?
– Porque ele era muito mais, sabia muito mais.
– Sim, sabia muito mais.
Mas ele, dentro daquela humildade dele,
ele silenciava muita coisa.
– Se conteve.
– Se continha, né?
Tinha outra coisa que me chamou muito a atenção nele,
eu convivi quase 20 anos: era a capacidade de trabalho
Não tinha tempo ruim com ele. Era o dia inteiro,
ele estava sempre inventando alguma tarefa.
Não estava descansando nunca, né, Baccelli?
Então, a gente ia pro Centro Espírita, por exemplo,
para as reuniões públicas,
que começavam às 8 horas da noite,
e iam até às 4 horas da manhã,
e voltávamos pra casa dele às 4 horas da manhã
e ele ainda queria colocar o café,
o bolo, sentar, conversar,
e só ia dormir às 5 da manhã,
pra levantar às 6.
À essa época, com 20 e poucos anos, eu tinha
todas as forças, mas não conseguia acompanhá-lo.
E ele já era septuagenário.
Ô, Geraldo, por essa razão que eu não faço nenhum
julgamento de valor de quem conviveu com ele.
Porque encontrar o Chico num final de semana,
só num final de semana, é uma coisa.
Agora, vai acompanhar o ritmo do missionário,
de segunda a segunda.
Eu fiz isso em alguns eventos.
E muitos não suportaram esse ritmo.
A família, né, em Pedro Leopoldo...
Quem somos nós, pra dizer
que nós suportaríamos o ritmo
que um missionário
no quilate de Chico Xavier se submetia?
O Benedito, Saulo, cozinheiro lá no Chico,
pediu demissão.
Pediu demissão e o Chico perguntou:
“Por que que cê tá indo embora?”
“Ah, Seu Chico, porque vendo o senhor
trabalhar e fazer as coisas,
eu to chegando à conclusão de que,
pra ser espírita, precisa de ter muita saúde ! "
Terminava a sessão, na Comunhão Espírita Cristã,
depois lá na Casa da Prece,
enquanto tivesse alguém ali naquele corredor,
ele estava pra autografar o último livro
ou dar aquele último abraço.
E eu documentei uma coisa fantástica !
Eu tenho uma das reportagens com ele
no Natal de 1979.
Nós fomos documentando o trabalho dele, caminhando
naquela fila, com pouco mais de 7 mil pessoas.
Depois de haver atendido com
seus presentinhos as 7 mil e tantas pessoas,
ele foi para o Centro e por volta de 2 horas da manhã
estava psicografando uma mensagem,
que está documentada e que foi a emoção,
a felicidade que eu tive
de gravar ele psicografando a mensagem
de um menino chamado Paulinho,
falecido tragicamente num acidente,
os pais estavam sentados lá.
E aí continuou o trabalho dele,
terminou quase 6 horas da manhã.
Você me fez lembrar de uma coisa, Saulo: daquelas
distribuições de Natal de Chico Xavier.
Você falou em 7 mil, mas algumas
chegaram a 20 mil pessoas.
Exatamente.
Diante de Chico Xavier eu vi muita mãe cair de
joelhos e chegar até onde ele estava, ajoelhada,
como se estivesse se dirigindo realmente
a uma figura iluminada que ele era, não é?
Isso me emocionou muitas vezes,
que as mães se ajoelhavam...
Embora ele não gostasse disso, né?
Ele ficava incomodado com isso.
– Não, não gostava, mas era uma coisa espontânea.
– Era espontânea, do povo. Ninguém detinha.
– Exatamente.
– Conhecia pelo nome, chamava pelo nome..
Quantas pessoas fui apresentar, e ele
perguntava pela família, “como é que tá seu avô?”
– Memória prodigiosa, né?
– É, uma memória prodigiosa.
E quando eu o conheci,
que foi no dia 14 de outubro de 1981,
ele não sabia, quer dizer, eu até então
não tinha me encontrado com ele,
e ele me chama pelo meu nome,
e, ainda, pelo apelido: "Geraldinho".
“– Ah, Geraldinho”.
Eu fiquei, assim, estupefato com aquilo, em São Paulo.
E ocorreu um fato muito curioso nessa noite.
A reunião começou às 8 horas,
e eu estava ali, ajudando na organização
dos livros que ele iria autografar.
E às 4 horas da manhã, o Galves, que era o Presidente
do Centro, chegou perto da minha tia e falou:
“Nair, eu mandei fechar os portões.”
E ela falou com Galves assim:
“Mas, você falou com o Chico?”
E ele falou assim: “Não, não. Eu vou esconder isso do Chico, porque senão ele manda abrir de novo ! ”
Ela riu, e falou assim: “Ah, então eu duvido”.
Daí um pouco eu vejo Chico chamando Galves: “Galves,
vem cá, meu nego, abra os portões, por favor,
porque, enquanto tiver uma pessoa na fila,
eu estarei aqui para recebê-la.”
Chico Xavier, esse espírito tão grande,
que hoje muita gente reverencia,
era realmente aquilo que a gente pode
atribuir aos grandes espíritos.
Através de muitos fenômenos que ele produzia – pra
mim, muitas vezes inexplicáveis –
eu via que, dos médiuns que eu conhecia,
ele era o maior.
Ele era grande em suas atitudes, em sua
maneira de agir e de pensar.
Era grande. Era realmente aquilo que o Evangelho fala: “um homem de bem na Terra”
Sem a grandeza que muitas vezes
se lhe atribuem à pessoa que não tem.
Acha que humildade é na roupa, ou é não ter títulos.
Ele tinha profundo, não orgulho, nem vaidade,
mas não se envergonhava de dizer
que só tinha o curso primário.
E falava muito bem. A maneira de
portar-se era de uma pessoa
realmente com a dignidade de um grande espírito.
Não fazia vergonha numa festa,
por muito melhor que a festa fosse.
Uma vez, num jantar, que ele estava presente,
tinha sido testemunha num casamento,
e nós estávamos à mesa,
eu disse – cheia de talheres muito bonitos –
e eu observava como ele se
portava, ao pegar os talheres.
E eu disse: “Chico, donde será que você aprendeu
a conviver com tanta nobreza?"
Porque ele era simples, de Pedro Leopoldo.
Ele riu,
e, pra não dizer que isso era de outras vidas,
como qualquer um de nós diríamos,
ele disse: “Primeiro eu observo quem
pega o talher pra comer”.
Então, Chico era exatamente isto: sempre se fazia
o menor dentro dos grandes, mas ele era o maior.
Na presença do Chico todos nós experimentávamos
a vontade de ser melhores, né?
Até agora, que estamos aqui falando dele, né?
A gente sente vontade de ser, pelo menos
um pouquinho, como ele foi.
Pena que a gente não consiga.
Mas a infância dele foi muito difícil.
Eu acho que a sensibilidade da criança Chico Xavier
devia ser algo extraordinário.
Ele me conta um caso, quando ele tinha
4 anos de idade,
e que, na rua, a mãe dele colocava a cadeira na frente
da porta, junto com a dona Cilia, que era a vizinha,
e as duas colocavam a cadeira na frente da porta
e a garotada toda, todos os irmãos e irmãs dele,
e os filhos de Dona Cilia Correa estavam ali,
ou jogando bola, ou brincando de boneca, longe.
Ele tinha 4 anos de idade, e ele pressentia
que a mãe dele ia morrer.
Com 4 anos de idade, ele pressentia que
ele tinha pouco tempo com a mãe dele,
então, ele pedia licença à mãe dele,
pra ficar ao lado dela,
ele não ia brincar com os outros irmãos,
ou com os vizinhos.
Ele ficava ao lado dela, penteando a cabeleira dela,
ela tinha uma cabeleira lisa,
um cabelo preto muito bonito,
e ele pedia licença para ficar do lado dela, porque
percebia, sentia que ela ia faltar no ano seguinte !
Ele já nasceu, na verdade, né, Geraldinho, médium, né?
É.
Já com aquela sensibilidade toda aflorada.
E pressentindo, também, o que ele haveria de sofrer
com a orfandade, como de fato
ele sofreu muito dos 5 aos 7 anos de idade.
Uma verdadeira tortura, que ele sofreu até os 7 anos de idade, até que seu pai se casasse novamente,
e surgisse na vida dele o anjo bom, que
a mãe havia prometido, a dona Cidália.
Dona Cidália Batista Xavier.
Ele não – engraçado, é bom registrar –
ele não gostava da palavra madrasta, né?
Não.
Ele sempre falava “minha segunda mãe”.
Eu chamo de “boadrasta”.
Boadrasta.
Agora, impressionante o contato
dele com a mãe, não é?
Aos 5 anos de idade ele fica órfão de mãe,
vai morar com a madrinha,
que era uma pessoa perturbada,
e a mãe aparece pra ele, consolando-o,
falando com ele pra ter paciência.
Pra se submeter às ordens
malucas daquela senhora,
pra ela não se irritar o suficiente, porque
ela poderia – né, Baccelli, tem até um relato
que você escreve, que o Chico te contou –
que ela, a mãe dele, fala com ele: "Olha,
meu filho, não faça nada com ela, não se irrite com ela,
porque, se ela se exceder nos castigos com você,
ela pode maltratar o seu braço,
e você vai precisar desse braço no futuro.”
Poderia quebrar o braço dele, ele falou.
Porque eu vejo nisto tudo, sabe, Geraldinho e amigos,
uma perseguição já do mundo espiritual,
para que Chico não viesse a cumprir com a tarefa dele.
Interessante que ele me conta também um fato,
e, emocionado, vai me dizer:
“Geraldinho, é um fato muito curioso isto porque,
desde quando me entendo por gente,
na minha meninice em Pedro Leopoldo,
quando eu tinha 5 anos de idade,
eu guardo na memória, integralmente na memória,
todas as páginas do Evangelho Segundo o Espiritismo.”
Como pode ser isso?
Como que uma criança de 5 anos de idade
tem capacidade mnemônica de
recordar todas as páginas de um livro?
E ainda não havia aprendido a ler !
Não.
Teoricamente, não havia aprendido a ler.
Ele só foi pra escola aos 9.
Na verdade, ele sempre viu os espíritos, na igreja,
durante a missa, contava para o Padre.
Na época, na hora da Consagração da hóstia,
ele via uma luz descer e iluminar aquela hóstia.
Agora, o interessante é que esses
fenômenos mediúnicos, na infância,
eles costumam acontecer com muita perturbação,
mas com o Chico acontecia dentro de uma serenidade
e de um equilíbrio.
– Uma naturalidade.
Chico Xavier não teve nenhum privilégio,
Uma infância difícil, sofrida,
ausência da mãe, a primeira que fez muita falta,
a segunda que morre também com o Chico aos 21.
Sofreu bullying, no Grupo Escolar, no, então, Grupo
Escolar de Pedro Leopoldo.
Um menino acima do seu tempo, fora do seu tempo,
que nos deu essa dimensão posterior aí, né, fantástico.
E, falando em menino, eu lembro exatamente, 1971, eu resolvi fazer um documentário sobre o aniversário dele.
Aí fui conversar com o Chico em Uberaba.
“Chico, você lembra alguns amigos seus de infância?”
Isso eu trabalhava só em rádio,
não estava nem em televisão.
Só vou citar um, pra falar exatamente
desse aspecto da infância difícil.
Entrevistei um colega dele,
que, aos 9-10 anos de idade, quando
ele trabalhava lá na tecelagem, o protegia.
Orides, o nome dele.
Aí ele começou a contar, emocionado, chorou, e disse:
“Ah, mas olha, eu estava lá na tecelagem
e o Chico era muito magrinho, muito fraquinho,
aí de noite eu olhava, via que
não tinha ninguém por perto,
aí eu botava ele dentro de uma caixa de papelão,
cobria ele com um pouco de algodão
para ele aguentar o frio da madrugada”.
Quando ele trabalhava entre 9-10 anos
de idade na tecelagem.
Só pôde estudar a partir dos 9 anos de idade, né?
Porque..
E só foi até o 3º ano, né?
Até o 4º. Estudou 5 anos.
Repetiu, né? Repetiu.
Inclusive ele repetiu acho que o 4º ano, né?
Mas não em razão da incapacidade,
porque ele havia pego uma infecção na
poeira do algodão, no pulmão,
e ficou impossibilitado, então
ele faltava muito ao último ano.
Ele repetiu o quarto ano.
Chico com 12 anos de idade,
o Governo do estado de Minas Gerais
lança um concurso para os alunos do primário,
para falarem, escreverem sobre
os 100 anos da Independência do Brasil.
E ele, então, faz uma poesia, aliás,
uma composição, uma redação,
e a redação dele ganha terceiro lugar, medalha de
bronze no estado de Minas Gerais inteiro.
Só que depois ele vai contar que foi um
fenômeno mediúnico, né, Baccelli?
É, e muita gente diz: “Ah, o Chico
começou a psicografar aos 17”.
Oficialmente, sim, que ele se tornou espírita,
em 8 de julho de 1927.
Mas, na realidade, extraoficialmente,
a primeira psicografia aconteceu os 12 anos de idade,
porque, no momento de fazer a redação,
ele viu um espírito – viu e ouviu –
um espírito ditando o que ele
deveria começar a escrever:
“O Brasil, descoberto por Pedro Álvares Cabral...”
e, assim, começava a redação.
E o Chico ficou espantado com aquele fenômeno,
perguntou a um colega que estava ao lado dele
– chamava Alencar de Assis.
Disse: “Ô, Alencar, tem um homem aqui, tal e coisa...”
O colega falou com ele assim:
“Ah, Chico, cê está é com medo da prova ! ”
Mas foi com 12 anos de idade.
Vejamos que mediunidade extraordinária,
recebendo um prêmio em todo o Estado.
Medalha de bronze.
Considerada a terceira melhor redação.
Talvez se não tivesse alguma questão política,
pudesse ter sido o primeiro lugar.
Ô, Baccelli, depois de ter perguntado ao colega,
ele se levantou, foi, e se dirigiu à professora.
Professora Rosária Laranjeira.
Ele falou assim: “Professora, tem um moço ali,
me dizendo pra anotar uma composição.”
– “Que eu tenho que escrever...”
– Ela falou: “Não, Chico, isso tá na sua cabeça.”
Amava o Chico, mas também
não o compreendia, não é?
“Não, Chico, vai lá e escreve. Isso é da sua cabeça.”
Aí ele voltou.
E, ainda nessa redação, quando ele ganhou o prêmio, os coleguinhas acharam que teria copiado de algum lugar.
E, na mesma hora, uma das coleguinhas,
que ajudava os pais na construção da sua casa,
da família Leroy, ou "Leroá", sugeriu, naquele momento
pediu à professora, que eles escolhessem um tema,
para que o Chico pudesse desenvolver.
Aparece, novamente, esse mesmo espírito
falando: “Ô, Chico, pode assumir o compromisso ! ”
Nessa ocasião, já se formou, na classe,
a turma dos “pró” e a turma dos “contra”.
Então, ele já começou a sofrer,
aos 12 anos, o ataque dos “contra”.
E aí, a menina, pra pegar o Chico,
colocou um tema difícil: “areia”.
– Escrever sobre a areia.
– Vai falar sobre areia.
E aí ele foi ao quadro, com autorização da professora,
ela ficou um pouco renitente, em permitir,
e o Chico começou: “Meus filhos,
não escarneçam da criação.
Um grão de areia equivale a
um pequenino sol, refletindo a luz de Deus.”
Nunca mais Dona Rosaria permitiu
que se falasse nesse assunto.
Eu sempre gosto de citar esse assunto,
que o Chico nasceu médium,
antes de ser espírita, não conhecia o espiritismo,
até então, porque a família era toda católica.
O pai, mesmo, teve muita dificuldade de aceitar o filho,
Chico Xavier, na condição de médium.
As visões que ele tinha de Dona Maria João de Deus,
quando estava morando lá com a madrinha.
– Esse menino tá louco, né?
– O menino está louco.
E outra coisa interessante, que o Jhon se referiu...
– sofreu, com a madrinha perturbada –
Sofrendo, apanhando
– apanhando 3 surras por dia de garfos na barriga.
O Jhon lembrou aqui a fábrica lá de tecelagem,
aos 7-8 anos.
E nós não podemos nos esquecer, Jhon, que esse emprego, na fábrica, quem arranjou pra ele foi um padre.
O confessor, o Sebastião Scarzello.
Pra ele não ser internado, como louco,
porque o pai queria fazer isso.
Não aceitava aquele menino tendo visões, achava que
ele era louco, que precisava ir pra um sanatório.
E o Sebastião Scarzello, sabendo que
aquele menino era um menino bom, trabalhador,
o protegeu, arrumando um emprego.
Ele amava o Chico.
Não o compreendia, mas amava o Chico.
O Chico era professor de catecismo da igreja.
Foi coroinha dele, do Scarzello, até
17 anos de idade, por aí.
Agora, o pai considerava ele como louco, porque ele levantava à noite, e falava com os espíritos.
E começava a andar pela casa, incorporado.
E dando notícias do pessoal de Pedro Leopoldo,
que já tinham morrido.
É, já tinham desencarnado.
Olha, era uma vida muito agradável,
muito saudável e de muitos sentimentos.
A gente, por exemplo, o Chico trabalhava, eu trabalhava,
no escritório do Ministério da Agricultura,
que era na Fazenda.
E havia muita ordem nesses dois tipos de
trabalho que a gente tinha,
o espiritual e o material.
Nunca a gente misturava, não.
E isso foi uma coisa muito interessante de aprender.
Então, quando chegava um assunto, ou
alguém, assim, que vinha de longe, não sei o quê..
e chegava, falava com meu pai o que queria,
o que tinha que fazer, e não sei o quê...
Papai orientava, acertadamente, para
à noite irem para o culto lá em Pedro Leopoldo.
Onde Emmanuel, ou outro espírito estaria
pronto para receber e para orientar.
Na construção, tinha uma sala primeiro grande,
onde ficava o escritório do meu pai e um auxiliar.
E o Chico e eu ficávamos numa outra salinha,
com máquina de escrever.
Mas, pra tirar o papel, pra escrever ou mudar a fita,
essa coisa toda, ficava tudo lá no cerco.
Então, nesse pedacinho, que a gente ía de um lugar para o outro, a gente conversava !
Porque também não podia conversar
na hora do trabalho, né?
Não podia dar esse mal exemplo.
Ele vai me contar um fenômeno,
que também me impressionou muito,
que é a morte de Dona Cidália.
A Dona Cidália, que era a confessora dele,
porque na infância ela fala com ele:
“Não, Chico, você não fica contando isso tudo que
você vê pros outros, não, conta só para mim.”
Ela foi uma protetora, sem entender também, né?
É, sem entender, também, mas era a confessora
dele, porque ele contava tudo que ele via.
E ela desencarna no dia 19 de abril de 1931.
Ele me conta que ela aparece e o chama, já doente,
muito debilitada, o chama na cama,
e fala com ele: “Ô, Chico, eu estou indo embora”
e ele me conta que ele chora no pé da cama dela,
e faz assim: “Não faça isso ! A senhora é minha mãe."
"A senhora é com quem eu conto, se a senhora
for embora, eu vou ficar sozinho aqui."
E, de fato, no dia seguinte, ela desencarna.
Ela teve o pressentimento de que ela iria desencarnar.
E o Chico me conta que no velório – àquela
época se fazia o velório em casa –
colocava-se o caixão ali na mesa principal
da casa, e a família e os vizinhos vinham
e ele estava numa profunda angústia.
Ele vai me dizer que essa noite talvez tenha sido
a noite de maior angústia que ele vivera.
E ele começa a ver uma estrada de luz...
Desaparece o telhado da casa, na visão espiritual dele,
e ele começa a ver aquela estrada de luz,
iluminando o caixão,
e depois ele começa a ver bolas de luz que
vão descendo por essa estrada de luz.
E à medida que elas iam chegando,
em número total de 12,
essas bolas de luz se transformavam em anjos alados.
Eram os irmãos do arco-íris.
– Isso, anjos alados,
eram diáfanos e tinham asas, ele vê essas asas.
E todos eles vão beijando a testa de Dona Cidália, ali,
o corpo inerte de Dona Cidália.
E quando o último deles faz isso, o Chico vê
o espírito dela se desprendendo do corpo.
E ela vê que ele está vendo,
tanto é que ela, segundo ele me contou, dá um
adeuzinho pra ele, como quem diz "até logo".
E pra ele foi um sentimento de solidão muito grande,
porque ele sentiu que ela iria embora.
e quando, então, eles pegam Dona Cidália pela mão,
o Chico vê que ela se transforma num deles.
Sem dúvida alguma, um dos espíritos mais iluminados,
que nós tivemos na Terra, sem dúvida.
A maior antena psíquica de todos os tempos.
Agora tem a questão da irmã de Chico doente.
Que a família, por ela estar tomada por obsessão,
procurou os médicos psiquiatras da época
e não conseguiram resolver, até que alguém
sugere um casal de Belo Horizonte,
que é o Hermínio Perácio e a Dona Carmen,
pra ajudar família.
Então, em maio de 1927,
esse casal chega, e aí que Chico Xavier
vai ter contato com a doutrina espírita.
Vai receber do casal, de presente,
as obras de Allan Kardec.
– Duas, né? –
Exato. – O Livro dos Espíritos e
O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Vale lembrar que foram sempre os dois livros
que ele manteve à mesa.
E carregava debaixo do braço,
em suas reuniões, até desencarnar.
O Evangelho Segundo o Espiritismo e
O Livro dos Espíritos.
E ele vai compreender a mediunidade
que ele tinha, já nessa ocasião.
Porque o fenômeno já existia,
ele já via os espíritos desde a fase infantil,
já se comunicava com os espíritos, mas não
compreendia racionalmente o fenômeno.
Então, com Allan Kardec,
quando ele vai ler Allan Kardec,
ele vai recordar-se daqueles
ensinamentos todos de outras vidas,
ele, então, não tem opção, a não ser pedir desculpas
ao Padre Sebastião Scarzello e se confessar espírita.
E, a partir daí, dedicar-se ao estudo da
doutrina espírita e da mediunidade.
Ele pediu a bênção ao Padre, e o Padre o abençoou, porque ele não apareceria mais na igreja.
Porque – daí em diante – tudo na
vida de Chico iria se precipitar, né?
Isso aconteceu no mês de maio, né, Geraldinho?
– Maio de 1927.
– Julho ele já tava..
Julho ele psicografa a primeira mensagem e
em junho funda o Centro Espírita Luiz Gonzaga.
O primeiro.. Tudo acontece assim, rapidamente, não é?
Agora, ele sofre, também, pelo seguinte,
porque, quando fundaram o Centro, eram 9 amigos,
9 companheiros, na casa de um deles, né?
Uma senhora, Dona Josefa... Barbosa. Isso.
Dona Josefa Barbosa.
E nos próximos 9 meses, Chico vai me contar isso,
de junho – a fundação foi em junho –
nos próximos nove meses seguintes
vários daqueles que fundaram o Centro
desencarnaram – olha só... –
e praticamente ficou o Chico, o irmão dele, o José,
e mais um companheiro,
que a esposa, muito católica, fez de tudo pra tirar e
ele acabou saindo também.
Foi quando o Chico começou a fazer
sessões praticamente sozinho, né?
A psicografia de Chico dava testemunho de veracidade.
Coisa que muitas vezes a gente vê
psicografia, através de outros médiuns,
mas não dão testemunho.
O Chico, quando recebia a carta, ele dava recados
que ele não conhecia, só a família sabia.
Ele dava datas.
Ele dava testemunho de veracidade
daquelas psicografias.
Então, isso era a beleza da psicografia.
Há tanto documento espalhado,
realmente, e perdido, até, que eu acredito
que até, futuramente, se encontrará
muito destas cartas, através até de séculos.
Agora, dentro disto que nós não temos,
mas o que temos é tão rico,
que ninguém precisaria psicografar
mais nada por séculos.
Você me fez lembrar da plantação de alhos, né?
que ele, a pedido do chefe dele da venda,
José Felizardo Sobrinho,
ele tá lá, regando o canteiro de alho,
e contava pra nós que o espírito de Augusto dos Anjos,
grande poeta brasileiro,
iria declamar pra ele aquelas poesias e ele
não entendia muitos daqueles nomes,
porque Augusto dos Anjos, muito clássico – “Constelações”, “Sóis”, “Universo” e tal –
Não entendia muita coisa, e, às vezes, o
Augusto dos Anjos se irritava com ele,
porque ele não estava ali, guardando
na memória aqueles trechos,
porque, depois, ele tinha que chegar à
venda e escrever tudo aquilo que tinha ouvido, né?
Quer dizer, a mediunidade de clariaudiência, associada
à clarividência – quer dizer, via e ouvia o espírito.
Até mesmo antes da psicografia
e precisava depois colocar no papel
Chico,
escuta isso...
“Venho da fonte eterna das origens,
No turbilhão de todas as vertigens,
Em mil transmutações,
fundas e enormes;
Do silêncio da mônada invisível,
Do tetro e fundo abismo, negro e horrível,
Vitalizando corpos multiformes
Glória à matéria cósmica, a energia
Potencial que dá vida aos elementos,
Base de portentosos movimentos
Onde a forma se acaba e principia.”
E aí, interessante, que ele começa, então, a escrever
e, inicialmente, eu não sei – a gente ainda não
descobriu como – talvez o irmão dele, José,
manda esses poemas para o Rio de Janeiro,
para o médium Inácio Bittencourt,
que começa a publicar isso, ainda em 1927 / 1928,
no Jornal Aurora, do Rio de Janeiro,
e ele assinava “F Xavier” ou então “Francisco Xavier”.
A princípio, assinava o nome dele.
E isso vai chamar a atenção do Manuel Quintão,
na Federação Espírita Brasileira.
A gente guarda as cartas.
É muito interessante, porque a gente tem, do arquivo
pessoal do Chico, que está sob a nossa guarda,
as cartas do Manuel Quintão, escrevendo para o
Chico Xavier e mostrando, falando com o Chico:
"Olha, nós aqui no Rio de Janeiro estamos
encantados com esses poemas”.
O Manuel Quintão, então, fala com ele:
“Olha, isso não pode ficar só sendo publicado no
jornal, não, tem que publicar em livro”.
E convence o Chico a publicar o livro,
que é o “Parnaso de Além Túmulo”,
primeiro livro que vai ser
lançado em 1º de junho de 1932.
Quer dizer, então, desde o início da mediunidade,
em 1927 até 1932, foram 5 anos de preparação.
Treinamento.
Mas, convém dizer, que em 1932 o Chico estava
com 22 anos de idade, né? – Um jovenzinho.
Mas, na verdade, a psicografia do Parnaso
foi concluída ele tinha 21 anos de idade.
21 anos em 1931.
São 56 poetas, não?
Na primeira edição.
56 sonetos e poemas, e vários poetas.
A primeira edição era um livro bem fininho,
mas foi o suficiente pra fazer tremer a
Academia Brasileira de Letras, não é?
É, porque aí chama a atenção da Academia
Brasileira de Letras.
O Jornal O Globo vai mandar o
jornalista Clementino de Alencar,
a Pedro Leopoldo, para desmascarar Chico Xavier.
Aí já é 1935.
Porque aí, o Parnaso se torna
o maior fenômeno editorial.
Mas, me permite uma observação?
A primeira grande manifestação
da chamada grande imprensa
surge exatamente em consequência
da publicação do Parnaso no Diário Carioca.
Isso.
Era o segundo maior Jornal do país na capital,
depois de O Globo, era o Jornal Carioca,
e onde os membros da Academia Brasileira de Letras
escreviam suas colunas semanais,
aí é que surgem duas manifestações interessantes,
aquele artigo histórico de Humberto de Campos.
Humberto de Campos – nós recuperamos, recentemente.
Quando em determinado momento
ele diz: “A preocupação de nós poetas
no momento em que, pelas mãos de Chico Xavier, os poetas mortos continuam fazendo poesias”.
Ele diz isso no seu artigo, né?
Aí, a manifestação de vários membros da Academia de Letras, que começam a discutir Chico Xavier
e, dentre outros, vem o Monteiro Lobato
e diz uma frase histórica:
“Se o Chico Xavier foi capaz de fazer todas essas
publicações, esses sonetos, essas poesias, sozinho,
ele tem direito a escolher quantas cadeiras
quiser na Academia Brasileira de Letras”.
Olha, eu costumo dizer que Chico Xavier foi
o Livro dos Médiuns encarnado,
porque Chico Xavier possuía todas
as faculdades mediúnicas
que Alan Kardec teve oportunidade
de estudar e de apontar ali, em o Livro dos Médiuns.
Ele, não apenas, foi um excepcional médium de efeitos intelectuais, não apenas médium de psicografia.
Claro, ele se destacou no campo da psicografia,
porque a missão dele foi a missão do livro.
Agora, eu gostaria de falar sobre Chico Xavier, através
de sua própria condição anímica.
A telepatia, ler pensamentos.
Chico conhecia tudo através da sua mediunidade.
Um olhar só, ele englobava tudo o que ele precisava
saber e sentir a respeito das pessoas.
O que marcou muito também.
Eu não sei se eu poderia dizer isto, que era
um fato mediúnico, ou simplesmente mental.
Nós costumávamos estar – eu diante dele –
quando ia à Uberaba,
e, muitas vezes, quando ele queria falar comigo,
ele falava mentalmente e eu conseguia captar,
– porque havia, realmente, muita afinidade –
onde ele queria me encontrar.
Mas, o mais importante, ainda,
foi no canteiro de Amor Perfeito.
Na minha casa, tinha um canteiro
de Amor Perfeito para Chico Xavier.
E, numa manhã, eu fui saindo, mas me detive aí naquele
canteiro, e olhei para aquelas flores
e falei: “Ah, dia 17 eu vou fazer uma visita pro Chico”.
Disse mentalmente. E, no dia seguinte,
eu recebi um telegrama do Chico:
“No dia 17 estarei em Pedro Leopoldo, mas no dia 23
vou receber a querida amiga em nosso lar”.
Antes de Chico Xavier chegar ao nosso Centro,
Chico Xavier já vinha, em espírito,
através da sua mediunidade.
Visitava tudo. E, muita vez, visitava muitos daqueles
que iriam estar junto a ele – haja vista – ele falou:
“Ô, meu filho, você aqui?”
Ele já havia visto aquela pessoa.
Mas a sua presença não se referia tão somente alegria;
ele realizava grandes curas, sem mesmo o perceber.
Havia um senhor que bebia, há muitos anos.
Veio somente visitá-lo e nunca mais bebeu.
E, muitas pessoas, portadoras de dores, de qualquer
distúrbio, desapareciam,
quando Chico Xavier se encontrava no Perseverança.
Mas era uma festa, e quando ele estendia a rosa, que ele
costumava dar, suas mãos eram mais brilhantes ainda,
e aquela rosa levava fluídos e tudo, até para a casa das
pessoas que ali vinham. Era uma coisa inusitada.
Sou feliz em poder relatar essas verdades, ainda com a
emoção que aquele momento me proporcionava.
Aí, nós vamos entrar, também, no campo da cura.
Ô, Geraldinho, quantas curas eu tive
a oportunidade de presenciar,
na Comunhão Espírita Cristã e no
Grupo Espírita da Prece,
porque a gente acha que as pessoas
procuravam Chico Xavier
só pra obter uma mensagem dos desencarnados.
Não, a maioria estava doente, com câncer,
uma cirurgia séria, um problema cardíaco,
precisava fazer uma cirurgia, como eu vi muitos casos.
Um amigo nosso, que tinha uma ferida na perna, gastou
tudo, era uma ferida do joelho ao tornozelo.
E aquilo não sarava, iam cortar a perna dele.
E ele foi ao Chico Xavier.
A reunião tinha terminado, ele
encontrou Chico Xavier no portão.
Ele falou com Chico Xavier o que
tinha acontecido com ele,
o que estava acontecendo, mostrou a ferida
e o Chico Xavier falou assim:
“Alguém tem um papel aí?”
Porque ele já estava no portão,
não tinha papel mais.
Alguém deu pra ele um pedaço de papel de pão.
Diz o meu amigo que ele encostou no portal
da Comunhão Espírita Cristã.
“Toma isso aqui”.
Esse meu amigo pegou aquela receita, escrita
num papel de pão, e falou assim:
“Esse homem é um charlatão !
Eu já consultei os maiores especialistas.
Ninguém me cura, e agora ele
escreve isso aqui, num papel de pão?”
Uma dor terrível. Chegou em casa,
jogou a receita no lixo.
Mas, naquela noite a perna dele,
especialmente, doeu tanto,
que ele não teve recursos, senão no
outro dia pegar aquele papel de pão
e ir até uma farmácia aviar
aquela receita homeopática.
Porque a homeopatia é um veículo
para a cura dos espíritos.
Para a cura dos espíritos.
E ele tomou – começou a tomar aquilo sem fé – diz ele.
Cicatrizou a ferida, em menos de um mês !
Aí, ele voltou no Chico pra agradecer,
porque ele achou que o Chico era um charlatão.
“Seu Chico, eu tô aqui hoje para agradecer o senhor,
porque o senhor me deu uma receita”.
Chico respondeu para ele assim:
“Meu filho, o remédio é um ponto de vista.
Quem cura mesmo é Jesus".
Eu vi tantos casos assim...
Maravilhosos, né?
Mas tantos...
Uma prima nossa, de Belo Horizonte,
que é a Wanda de Figueiredo Noronha,
ela teve um problema gravíssimo, raríssimo.
Porque ela foi comer aquela carne de porco
e estava com bicho.
Cisticercose.
Só que no problema dela, deu a cisticercose no sangue.
Que é um caso que, geralmente, se localiza no
órgão, como o cérebro. Mas no dela foi no sangue.
E, durante muitos anos, ela esteve à beira da morte,
e foi Chico Xavier quem recebia as instruções de
Doutor Bezerra de Menezes, pela psicografia,
inclusive orientando o médico dela – que a essa altura ela estava em São Paulo – Dr. Dante, a fazer o remédio
a partir do bicho macho da cisticercose,
que acabou cristalizando todos eles no corpo dela
e ela, então, sobreviveu
da década de 60 – isso ocorreu na década de 60 – e ela ainda sobreviveu 20 anos. Só vai desencarnar em 1986.
Baccelli deve conhecer, então, bem, o episódio de um
presidente da Federação Espírita do Paraná,
que veio numa delegação visitar o Chico.
Em determinado momento, Chico fez referência ao falecimento da mãe dele.
Ele saiu da reunião meio constrangido,
disse: “Ah, o Chico não deve estar bem..
Como? Acabei de falar com minha mãe
ainda há pouco e tá tudo bem no Paraná.”
Seguiu-se, lá em Uberaba, e foi pro Hotel.
Quando ele chegou no Hotel, chegou o telefonema.
A mãe dele tinha tido um problema e
faleceu de repente, naquele período.
Ou seja, o Chico estava transmitindo a ele o falecimento
da mãe dele, no momento em que estava acontecendo.
E teve um fenômeno, também, de presciência dele,
ele estava com a Dona Lourdes, mãe do Rivaldo,
e, às 7 horas da manhã, falou com ela assim:
“Ô, Lourdes, você tem o costume de
carregar o radinho de pilha
e eu gostaria que você me trouxesse ele ao meio-dia.”
Disse: “Ah é, Chico? Por que?”
“Não, é que eu quero ouvir uma notícia que vai sair por volta de meio-dia, meio-dia e meia.”
Disse assim: “Ah, qual é a notícia?
Por que que cê não ouve agora?”
Disse: “Não, porque não aconteceu, ainda.”
– “Mas o que que é que vai acontecer?”
– “É a morte do Zé Arigó.”
– “Ah, coitado, ele morreu?”
“Não, ainda não, mas o espírito do Dr.Fritz falou comigo
que vai tirar ele do corpo hoje.”
1971, né?
E ela ficou impressionadíssima com isso, porque, de fato, houve a desencarnação do Zé Arigó,
e, logo, os rádios, na parte da tarde,
começaram a dar a notícia.
O Pinga-Fogo representou uma porta de conhecimento
para muitos, e quase que para a humanidade.
Porque o Pinga-Fogo percorreu o mundo,
não só o Brasil,
então, ele veio trazer para o espiritismo tudo que o
espiritismo precisaria para desenvolver-se
e atrair pessoas de maior cultura e de maior relevância.
Nem o Chico poderia atribuir o sucesso daquele
programa, dentro do movimento espírita,
porque, realmente, ele mostrou,
no Pinga-Fogo, o que é o Espiritismo.
Muita gente, e hoje, ainda, alguns pensam que
Espiritismo é falar com os mortos, só.
E o Chico, no Pinga-Fogo, ensinou que Espiritismo é
aprender a viver como um encarnado, também.
Foi um marco na vida da Doutrina dos Espíritos.
Um marco que nós, os espíritas, devemos
muito ao Chico Xavier.
Agora, Chico sentia esta
responsabilidade muito grande.
Porque ele passou a noite sem dormir e o resto do dia
sem se alimentar, tomando café.
E passeava pelo jardim da casa,
orando e falando, orando
e conversando com os espíritos.
E, um pouco antes de sair, quando nós, Galves e eu,
o arrumamos para o Pinga-Fogo,
– o terninho bonito, a gravata, pra ele ir,
e, realmente, a peruca que tanto deu o que
falar. Ele já foi ao Pinga-Fogo com ela –
então, o Chico chegou perto da fotografia de
Jesus, que tinha no apartamento dele, e a beijou.
Eu lá vi o Chico beijando
a fotografia de Jesus e chorando.
Ele sabia da responsabilidade que tinha em suas mãos.
A Direção chamou a todos nós, repórteres, e disse: “Olha, o Pinga-Fogo”
– que era um programa
que só entrevistava políticos e intelectuais –
“Pinga-Fogo está com dificuldade de audiência este ano. Precisamos alavancar a audiência do programa.
Cada um de vocês tem que indicar um nome, capaz de alavancar a audiência do programa”.
E eu dei o nome de Chico Xavier. Foi uma bomba.
Todos os diretores se manifestaram.
Dois especificamente.
O diretor comercial, Fernando Severino,
disse: “Saulo, cê tá louco !
Já pensou, o pessoal do comercial, ninguém vai querer anunciar com a gente. Botar espiritismo na Tupi?”
E, mais grave, a expressão de
Cassiano Gabus Mendes, que era o Diretor-Geral:
“Saulo, você? Nós respeitamos o seu trabalho ! Mas você quer trazer um ‘pai de santo’, pro Pinga-Fogo?”
Então, veja, quanta barbaridade nós ouvimos.
E eu fiquei ouvindo, e até parecia os conselhos de
Chico durante aqueles 3 anos.
Mantive a calma, não perdi a esportiva,
trabalhei por fora.
Consegui chegar ao Sr. Edmundo Monteiro,
Diretor-Presidente,
e ele deu ordem para trazer o Chico
pra fazer o Pinga-Fogo.
Aí eu fui a Uberaba, convidar o Chico.
Primeira manifestação: “Não, meu querido,
procure outros companheiros aí,
porque, o meu nome, não tem problema nenhum,
mas a Doutrina, eu tenho que ter muito cuidado,
eu não posso ir a um programa desses.”
Conversamos um pouco e aí
eu contei todo esse episódio a ele.
Ele parou assim e disse assim:
“Você acha que eu devo, então, ir ao programa?”
Ficou com aquele jeitinho dele, olhou assim
– ele olhava assim no alto, num é?
Parou...
Disse: "Pode avisar, Saulo, os Diretores lá, que eu vou ao programa, mas a responsabilidade é muito grande.
Eu não vou corresponder a esse programa.
A entrevista é pequena, né?”
– "É."
Fomos pro programa.
O programa, uma hora e meia era o tempo máximo
dos programas anteriores – até com Fidel Castro,
Juscelino Kubitschek, Brizola, Carlos Prestes,
pessoas grandes e importantes figuras da política estiveram neste programa,
e nunca foi além de uma hora e meia.
Sr. Edmundo Monteiro, Presidente,
que autorizou, estava em...
em Guarujá, no seu apartamento, ouvindo
o programa, assistindo o programa.
Ligou pra emissora e disse:
“Dá mais uma hora para esse homem falar.”
“Dá mais meia hora.” E resultado:
foi a primeira vez que o Pinga-Fogo
teve mais de 3 horas de duração !
A Direção me chamou e disse assim: “Saulo, nós temos que organizar a bancada de entrevistadores”.
Diz exatamente o que o Cassiano Gabus Mendes e o Fernando Severino, o Diretor Comercial,
comigo confirmou: “Já que vamos
brigar com a Igreja Católica,
não vamos brigar também com os espíritas,
magrão.” – era o meu apelido –
"Você, por favor, convida os espíritas
para entrevistar o Chico”.
Para surpresa de todos: a maior audiência da história da televisão – em todas as épocas – como até hoje.
Nós tivemos, segundo o Ibope, 86 de Ibope,
com apenas 11% de aparelhos desligados.
Aí, resultado:
termina o programa, audiência inédita
na história da televisão – repito – até hoje,
aí, passado um tempinho surge um outro fenômeno,
que, quem conhece televisão, sabe que é impossível:
eu fui chamado pela Direção,
quase no fim do ano, e disse: “Saulo,
nós vamos fazer o último
programa dia 21 de dezembro.
Será que o Chico...”
– Pinga Fogo –
“Será que o Chico Xavier não aceita vir ao programa?”
E o Chico voltou, com essas mesmas características.
Esse segundo programa teve
mais de 4 horas de duração.
Então, é a primeira vez na história
– não é do Brasil, é do Mundo –
que um personagem, na televisão, sozinho, um cidadão,
responde, ao vivo, a mais de 100 perguntas,
sobre os mais variados assuntos,
que vai da Ciência até conquista do espaço, passando pelos temas polêmicos, como homossexualismo,
tudo isso que nós conhecemos, e que
está contido no Pinga-Fogo,
e outro fenômeno: a audiência repetiu-se
nos mesmos termos daquela de..
– ô, Saulo, Chico Xavier não foi um anjo
exercendo o papel de um homem.
Ele foi um homem – como nós, de carne e osso – do mundo e no mundo, exercendo o papel de um anjo.
Sempre !
O fenômeno, inclusive, nós registramos,
está na História:
as ruas do bairro do Sumaré, que era o Alto do Sumaré,
um bairro de São Paulo, e mais bairros próximos,
por volta de 11 horas da noite
o trânsito estava totalmente interrompido.
A Direção da Tupi teve que pedir auxílio
da Polícia Militar pra organizar o trânsito.
Pessoas saindo de casa, para ir assistir, querendo abraçar e ver o Chico. Não tinham como chegar..
É como eu costumo dizer, pela 1ª vez, através da TV, o Brasil viu a cara da Doutrina Espírita, em Chico Xavier.
Não é?
Aí, o Espiritismo, então, se mostrou ao Brasil
e deu início a uma nova fase
na vida mediúnica de Chico Xavier,
como ele próprio nos disse.
Exato.
Depois do Pinga-Fogo, começou na vida
dele uma nova fase, na vida mediúnica.
E mesmo tendo fama, né, Baccelli, você sabe disso,
fala pra nós, lá em Uberaba, ele tinha o hábito, por exemplo, de ir a um cafezinho, tomar um café.
Famoso Café “1.001”.
Ia aos Correios, ia à livraria católica,
comprar livros na livraria católica.
Ele saía do Centro, e ia lá na Caixa Postal 56.
Era esse o número da caixa?
56 o número da caixa postal.
Retirava ele mesmo, pegava aquele monte de material,
ia ali no “1.001” tomar um cafezinho.
Já não existe mais o “1.001”, o cafezinho,
onde ele tomava o café.
E a assistência, Baccelli lembra da madrugada,
Maria Boneca, o carinho que ele tinha
por uma louca, que vivia na rua em São Paulo.
Outra coisa, Saulo, eu nunca vi o
Chico fazer proselitismo:
é querer que as pessoas sejam espíritas.
Exato.
– Jamais, né?
Eu nunca vi o Chico fazer assim:
“Você precisa ser espírita”.
“Você precisa ler o meu livro”, né?
Não ! Ele não fazia isto.
Ele ia na cadeia, nós íamos com ele visitar
os presos na cadeia pública de Uberaba,
ele levava para os presos o que os presos pediam.
Uma vez, eu me lembro, um amigo disse que
os presos pediam cigarro.
O Chico levava cigarro para os presos.
O amigo falou assim: “Chico, mas você levando cigarro,
para os presos, incentivando um
vício ou alguma coisa assim?”
Ele falou assim: “Meu filho, nós não estamos
aqui pra pregar moral pra ninguém.
Nós não estamos aqui pra pregar moral.
Nós estamos aqui para visitar irmãos nossos,
nós poderíamos estar no lugar deles”
e uma vez ele psicografou na cadeia,
cercado de presos.
Ele se dirigiu, numa visita a ele, ao Carandirú,
o Luiz Camargo Wolfmann,
que era um grande, famoso até hoje,
como um dos maiores Diretores da Penitenciária de
São Paulo, do Sistema Penitenciário de São Paulo,
chamado de Luizão,
e todo mundo preocupado com a segurança,
ele disse: “Não, meu filho, somos todos... é tudo irmão.
Deixa, são os irmãos. Deixa eu conversar com eles”,
não querendo segurança, conversando com os presos, uma coisa fantástica a reação do cara preso.
O chefe do Carandirú, lá, o Delegado, não sei,
o Chico queria abraçar os presos de alta periculosidade.
Exatamente isso que eu estou contando,
o Luizão, o Luiz Camargo Wolfmann,
E eles não queriam deixar.
E aí, de repente, ele parou,
virou pra esse Diretor e disse assim:
“Mas veja, quantos presos?”, aí ele disse assim:
“Aqui nós temos 7 mil e tantos homens”,
ele disse: “Quanto nós somos, mesmo, meu filho?”
Incluído na contagem !
O chefe lá falou: “Chico, você não pode
abraçar os presos de alta periculosidade".
" Olha lá, ó ! ” – e tava a turma toda lá de fuzil.
Porque podia ter um motim, alguma coisa, né?
“Ó lá, Chico, você não pode abraçar.
Porque, se você for abraçá-los,
pode ter aqui alguma coisa aqui dentro,
e eles vão atirar e você vai estar aí no meio.”
Ele falou assim: “Não tem importância, não.
Porque, se tiver que atirar, pode atirar.
Mas eu não vim cá pra abraçar só alguns.
Eu quero abraçar todos”.
É.
Um homem diferente, né, Baccelli?
Um homem completamente diferente.
Diferente,
completamente diferente.
É, tanto que nos convenceu a todos, né?
O Chico gostava de ouvir uma boa anedota.
Não as contava e não as repetia.
Mas, quando alguém, certa vez,
contou uma anedota pra ele de Jesus,
mas Chico ria tanto,
ele achou tão espirituoso ligar o fato, assim,
como se Jesus estivesse entre nós
e falando normalmente, sem aquela empáfia,
Ele lá em cima e eu aqui.
Então Chico era muito bem humorado,
adorava rir,
gostava de futebol,
adorava ver programas de televisão de humor,
não se escandalizava de nada,
nem quando alguém lhe contava uma anedota
um pouquinho mais apimentada...
Ele ria, punha a mão na boca,
mas não se escandalizava, de maneira nenhuma.
O avião começou a se inclinar para um lado, para outro,
às vezes fazia, assim, uma pirueta
e o pessoal começou todo a gritar e a pedir a Deus,
pedir socorro,
e eu estou ali, acompanhando.
Veio o comandante do avião e disse
que não nos impressionássemos,
que era um fenômeno chamado “vento de cauda”,
e que apenas chegaríamos um pouco mais depressa.
Mas, algumas pessoas disseram:
“mais depressa no outro mundo...”
E, quando vi aquela atmosfera,
eu comecei a gritar, também.
Eu falei assim: "Bem, todo mundo está
gritando, eu também vou gritar,
porque isto é a hora da morte ! "
Então, aí entra o espírito de Emmanuel.
Então, passou no meio do pessoal,
e o pessoal não o via.
Então, ele disse assim: “Por que é
que você está gritando?
Eu escutei o seu pedido, o que que há?”
Porque aquilo já tinha mais ou menos
uns 20 minutos, né?
Eu falei assim: “Bem, o senhor não acha
que estamos em perigo de vida?”
Ele falou assim: “Está, estão, e o que que há com isso?
Não tem muita gente em perigo de vida?
Vocês não são privilegiados, não é?”
Eu falei assim: “Tá bem, se estamos em
perigo de vida, eu vou gritar”, e continuei a gritar.
Continuei a gritar e falei: “Socorro, meu Deus”
e o povo todo gritando socorro, não é?
Então, ele me disse: “Você não acha melhor
calar, parar com isso,
dar testemunho da sua fé,
da sua confiança na imortalidade?”
Eu disse: “Ah, mas é a morte !
E nós estamos apavorados diante da morte.”
Ele falou assim: “Está bem, então você
acha que vai morrer?”
Eu falei assim: “O senhor não acha que estamos
em perigo de vida?” Ele disse: “Estão.”
Eu disse: “Está bem, eu estou
com muito medo, estou apavorado.”
Falou assim: “Está bem, então morra com educação.
Cala a boca e morra com educação, para não afligir
a cabeça dos outros com seus gritos.
Morra com fé em Deus.”
O Elvis faleceu no dia 16 de agosto de 1977.
Conheci o Chico em maio de 1981.
E, na época, se falava que Elvis não morreu...
Lá vou perguntar a Chico Xavier.
Morava em Pedro Leopoldo, Chico já em Uberaba.
Não perguntei publicamente – em particular –,
mas receoso, mas perguntei,
não imaginava a dimensão e
achei que ele me daria uma resposta
perfeita do Elvis no mundo
espiritual americano. Sabia de tudo, né?
Aí eu falei: “Chico, você tem
alguma notícia de Elvis Presley?”
Ele fez.. – Porque ele tinha falado em Marilyn Monroe –
Eu falei: “deve saber também do Elvis, né?”
Foi a resposta mais decepcionante.
Falei: “Chico, você tem alguma notícia de Elvis?”
– “Não, meu filho, nenhuma.”
Eu assustei e ele termina assim: “Se você souber
de alguma coisa, por gentileza, você me informa?”
O que reforça o que o Geraldo tem falado.
Muitos médiuns, por aí, verdadeiros “Rolando Lero”,
da Escolinha do Professor Raimundo.
Falam, falam, falam... e não dizem nada.
O Chico, sem dizer nada, dizia tudo.
Agora, a gente tinha medo dele, viu?
Medo.
Porque ele lia o pensamento da gente. Sabia tudo, né?
E eu conto esse caso, até constrangido.
Ele estava muito doente, e nos chamou,
em Belo Horizonte, eu e a Eliana,
e fomos a Uberaba, ver a situação dele, tal,
e ele estava realmente prostrado na cama.
Se levantou com muita dificuldade,
sentou-se na cama,
pôs a Eliana à frente dele, e começou a contar
o sofrimento que ele estava passando –
físico, né – problemas físicos.
E ele, então, tira os sapatos do chinelo
e levanta os pés, assim.
Fica com os dois pés levantados.
E falava – e eu sentado aqui, ao lado dele na cama –
e ele fazia assim com a mão: “Eu estou com.."
"Eu estou com..” E não vinha a palavra.
E eu, aqui do lado, pensei: “Chulé.”
E eu disse assim: “Meu Deus do céu”, comecei
a me repreender, né, não fiquei quieto,
e como que você vai pensar uma bobagem dessa?
E o Chico, então, ficou falando com
a Eliana e lembrou essa palavra:
“Eu estou com inchaço nos pés.”
Mas, só dele falar no inchaço, eu já tremi, não é?
E ainda conversou alguns minutos com a Eliana, e tal,
daí um pouco ele termina a história,
põe os pés ali no chão,
põe o dedo no meu nariz e faz assim: “Ô, Geraldinho,
eu quero falar com você uma coisa, meu filho,
em toda minha vida, eu nunca tive chulé ! ”
Ah, e gostoso foi uma vez, porque o Chico era assim,
dentro da sua sabedoria e da sua humildade,
Chico, quando ele contradizia
qualquer coisa que falavam,
era de uma maneira tão sutil, tão maravilhosa,
que pra pessoa entender, não era até muito fácil, não.
Certa feita, uma senhora, vestida
característica de uma grande religião,
ela disse assim: “Chico, você
sabe que, no plano espiritual,
há lá um mundo em que todos
os animais de lá são brancos?
Tudo lá é branco, todos os animais são brancos.”
E o Chico, então: “Pois é, minha filha.” E ela perguntou:
“Chico, você já esteve nesse lugar,
onde todos os animais são brancos?”
Ele falou: “Não, minha filha,
ainda não tive o merecimento, não.”
Passou um pouquinho, Chico falou:
“Guiomar, minha filha – tudo ele me chamava –
Guiomar, minha filha, você se lembra da
minha cachorrinha, negrinha?
Daquela pretinha, que, quando você ia nos visitar,
ela te abraçava também.
Se lembra dela, da nossa pretinha?”
Eu falei: “Ai, como eu me lembro, Chico Xavier ! ”
Ele falou: “Pois é, minha filha,
um dia, Emmanuel quis me dar uma alegria.
Ele falou pra mim à noite:
‘amanhã, eu vou te dar um presente,
amanhã eu vou levar você comigo, em
algum lugar, que você vai gostar muito’,
e levou-me num campo, lindo, maravilhoso,
e, no campo, aí veio correndo a minha pretinha !
Pretinha como ela era. Me abraçou, eu falei
‘ô, Pretinha, que bom que você continua pretinha ! ’ ”
Ô, Baccelli, eles têm me perguntado
"qual teria sido o maior legado de Chico Xavier?"
Como você já havia relatado – antes das mensagens
consoladoras – ele pegava o receituário mediúnico.
Começava, ali, às 4h, 5h, 6h e
se estendia pela madrugada.
Tinha uma fila, uma fila numerosa,
acho que umas 80 pessoas – como
você também tem por hábito fazer, né? –
umas 65-80 pessoas ali, com informações básicas:
“nome”, “data de falecimento”
e pedindo notícias de familiares.
O Chico estava ali sentado, e eu estava ao lado dele,
muito atento em todas as atitudes dele.
De repente, uma senhora, no meio do salão,
surtou de tanto sofrimento,
– que você já deve ter visto vários sofrimentos –
a pessoa havia perdido a mãe, os filhos
e o marido, no acidente automobilístico.
Na minha ignorância, na época, eu fiquei imaginando
“como é que se consola uma dor inconsolável?”
– Tão grande, né?
Inconsolável, né?
Chico se levanta, caminha em direção a essa mulher
e choram, publicamente, os dois, sem dizer nada.
Chico não disse absolutamente nada e disse tudo.
Eu reparei, depois do abraço,
que ela continuava chorosa,
mas já tinha um brilho diferente.
Chico está em transe.
Como sempre, a sala está repleta.
Sua figura, o ponto convergente de todos os olhares.
A cabeça apoia-se na mão esquerda,
enquanto a direita escreve.
Parece que dorme um sono profundo.
Mal-ajeitado na cadeira, a mão
obedece a um gesto mecânico
que se tornou um hábito por
75 anos de trabalho mediúnico.
O lápis parece flutuar.
As letras se formam rapidamente,
umas nascendo das outras,
num texto que não parece ter ponto, nem vírgula.
Chico está em transe.
Respiração lenta e compassada.
Ele dorme.
A entrega é completa.
O espírito que redige possui o seu corpo,
que reflete todas as suas emoções.
O comunicante chora através dele.
O espírito não está apenas na mensagem que grafa,
mas em todos os seus sentidos.
Repasso o olhar pela multidão.
Todos os fitam com certa curiosidade.
Muitos duvidam, mas respeitam.
O tempo passa.
Uma.
Duas.
Três horas.
Chico continua o transe.
Muitos espíritos já utilizaram o seu canal mediúnico,
cada qual com uma maneira de pegar o lápis.
Cada um com a assinatura que lhe é própria.
Depois de 4 horas de psicografia em público,
Chico começa a sair do transe.
Ele parece emergir de outra dimensão,
retornando gradativamente.
Sua mão deixa suavemente o lápis sobre a mesa.
Com o auxílio do lenço,
enxuga discretamente as lágrimas do rosto.
Abre os olhos e recoloca os
óculos que tira do bolso do paletó.
Chico se prepara para ler as páginas psicografadas.
Com auxílio de um gole de chá quente,
sua voz se faz mais possante.
Uma carta.
Duas.
Dez.
Vinte.
As citações são inúmeras.
Cerca de 50 nomes que
não se misturam no seu cérebro.
Fatos mencionados, autênticos, arrancam
exclamações e soluços dos familiares presentes.
Antes de entregar a mensagem, ao destinatário,
ele pergunta se está tudo em ordem.
Quando a reunião chega ao fim,
na madrugada do outro dia,
Chico se ergue da cadeira,
seu corpo parece pesado,
mas na face está estampada a alegria
pelo dever cumprido mais uma vez.
À noite haverá outra reunião.
E Chico estará lá,
novamente em transe.
Assim, como esteve praticamente em toda a sua vida.
O que eu mais amo em Chico Xavier
é a alegria dele de viver.
E passava essa alegria pra gente,
a benção de estarmos vivos aqui na Terra,
de vivenciarmos essa experiência humana.
Que isso era uma chance única,
no sentido da nossa trajetória evolutiva,
que deveríamos aproveitar isso ao máximo.
E ele fazia isso tão verdadeiro, não é, Baccelli?
E transmitia tanto essa alegria de estar aqui,
alegria de abraçar os irmãos,
de aumentar o círculo de amizades.
Eu acho que o Chico foi um mestre do granjear amigos,
porque, onde ele ia, ele fazia amizades,
ele ia se conectando com as pessoas
e, por isso mesmo, ele foi tão amado,
e, não por acaso, vai ser escolhido, décadas depois,
como “o maior brasileiro da história”, né?
É, porque não foi voto de espírita
que colocou ele nessa posição.
1 milhão e 300 mil votos, um pouco acima disso.
Isso acho que é a maior manifestação de carinho,
de amor, da população de um país inteiro.
Porque o povo respondeu a esse amor
que ele nos deixou.
Essa alegria que ele deixou para nós,
de transmitir o pensamento do Cristo,
atualizado pela doutrina espírita,
sem fórmulas, sem pompa, sem circunstâncias.
Pai espiritual do Brasil.
Eu tenho muita saudade, sabe do quê?
Do porto seguro que ele era.
E é.
Mas só que, enquanto ele estava aqui na Terra,
a gente tinha aquela presença física dele.
Esse porto seguro da gente saber:
qualquer dificuldade, qualquer luta, qualquer dor,
a gente chegaria em Uberaba e teria uma palavra dele.
Não precisava falar muita coisa, né, Baccelli.
– Falar nada, né?
Às vezes chegava calado e ele já vinha
contava um caso,
que se encaixava perfeitamente naquela
dúvida, naquele sofrimento,
e aquele caso nos orientava pelos próximos anos,
ou pelos próximos meses à frente.
Eu tenho muita saudade desse porto seguro.
Gratidão eterna, né?
Gratidão.
Gratidão, acho que é a expressão, né?
Gratidão, sim.
Pela paciência.
Ele tinha aquela frase que:
“Sei o que devo ser e ainda não sou”,
"Sabemos o que devemos ser e é difícil ser como é."
“Aceito o mundo e os homens
como eles são e continuo eu mesmo."
– exatamente – Chico Xavier.
Respeito pelas diferenças,
pela diversidade, pela inclusão.
Tolerância.
Num mundo hoje de tamanha intolerância, né?
Nós encontramos o homem
que viveu no futuro do seu tempo.
Porque ele tinha paz, né? Ele tinha paz de espírito.
E transmitia isso, né?
Ele vivia essa paz,
ele conseguiu transmitir essa paz pra gente.
E ele faz falta para o mundo, né, não só para nós.
Eu acho que o Chico nos deu a possibilidade
de ser possível, cada um de nós,
cada um com a sua parcela,
cada um com a sua contribuição,
de ajudar na construção.
Aquela frase que ele mais gostava
“a melhoria do mundo começa em cada um de nós”.
O Chico, ele não inventou nada, ele simplesmente mostrou essa possibilidade.
Reviveu o evangelho.
Em sua pureza e na sua simplicidade.
Aí, agora, a gente quase que termina a
nossa prosa como começamos, né?
O povo procurava Chico Xavier
porque sentia saudades de Jesus.