OS MENINOS DO REI DO CONGO
OS MENINOS DO REI DO CONGO
“O seu sobrinho começa já a ler e a escrever, falando o português e mostra, pela sua viveza, ter habilidade para aprender o que os mestres lhe querem ensinar. Conserva-se no convento de Santo António e aos domingos e dias santos vem jantar ao palácio, onde é tratado como sobrinho de V. Majestade” (Carta do governador de Angola, António Fernando de Noronha, ao Rei do Congo, datada de 29 de Agosto de 1804).
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A prática de confiar aos portugueses membros da parentela real congolesa era antiga e datava dos finais do século XV. Em Portugal ou nas missões católicas de Angola, jovens príncipes e infantes congoleses estudaram ao longo de séculos, aprendendo a falar, ler e escrever a língua portuguesa, assim como os rudimentos de latim, a doutrina católica, a aritmética, a música e aqueles conhecimentos tidos por indispensáveis para a futura ocupação de funções de comando e governação.
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Nem sempre, porém, os jovens tiravam proveito do privilégio que lhes era concedido, havendo constantes queixas ao rei do Congo a respeito do mau aproveitamento ou de condutas indignas do estatuto dos estudantes, cartas francas relevadoras da intimidade que ligava as autoridades do reino de Angola (Angola era um reino português) e o monarca católico africano. Pediam amiúde os governadores que os jovens fossem admoestados pelo pai e não castigados pelo rei.
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Miguel Castelo Branco
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Na imagem, já do século XVII, dois jovens congoleses vestidos à portuguesa. Ambos seriam serventes do emissário congolês Dom Miguel de Castro.