Agostinho Da Silva - Frases de Agostinho Da Silva - Acerca de Agostinho Da Silva

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Comentários

  • "Quando um homem chega à ideia de que aquilo que sabe, que vê e que pensa é o melhor que se pode atingir, é a coisa definitiva, esse homem, por muito revolucionário que pareça, é no fundo um conservador, um conservador apenas de coisas mais recentes, mas não é de maneira nenhuma um revolucionário"
    ~ Agostinho da Silva, Vida Conversável, 2020, p.101.

  • "O essencial na vida não é convencer ninguém, nem talvez isso seja possível; o que é preciso é que eles sejam nossos amigos; para tal, seremos nós amigos deles; que forças hão-de trabalhar o mundo se pusermos de parte a amizade?"

    • Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo
  • "(...) a tendência do homem feito escravo é de escravizar os outros, não é de fazer com que eles se libertem"
    ~ Agostinho da Silva, Vida Conversável, 2020, p.99.

  • "Para além das ideias que nos são próprias, há ideias que “pairam” no mundo e “entram” na cabeça das pessoas quando elas deixam de ter tanta credibilidade em si próprias"

    • Agostinho da Silva
  • "A minha meta é o ponto sem dimensão"
    ~ Agostinho da Silva

  • "(...) línguas de fogo varrerão a terra e nas chamas se consumirão capitalismos, socialismos, hierarquias e o século, partidos e autocratas; escolas, com eles irão, de jardins de infância às universidades, que são uma espécie de jardim de infância dos velhos; o que esperamos que surja é o lugar único de educação e de vida, para adultos e para crianças, em que o criar vá muito além do saber e lhe seja este puro servo, em que se procure sobretudo averiguar do que se não sabe, não do que já se conhece, em que o jogar se encontre com o trabalho, em que a liberdade crie sua própria disciplina e em que o contemplar domine o agir, e em que o adorar se sobreponha ao poder; que das máquinas de fabricar adultos nem as ruínas sobrem; que a criança cresça harmoniosamente e livremente, sem as deformações que lhe infligimos para que funcione, e raras vezes funciona, na vida que lhe fabricámos; que seja perfeita, na perfeição de suas conscientes intenções, não na perfeição do modelo que lhe demos; que a deixemos, pela liberdade e o amor, ser perfeita como nosso Pai é perfeito; eis, de longe vindos, o conselho e a ordem"
    ~ Agostinho da Silva, “Ecúmena” [1964], in Textos e Ensaios Filosóficos II, pp. 203-204.

  • "O mundo acaba sempre por fazer o que sonharam os poetas."

    • Agostinho da Silva, Conversação com Diotima
  • "- Já reparou naquilo a que chamo a agonia do trabalho? Toda a nossa vida gira em função do trabalho. Quando se pergunta a alguém o que é, nunca temos a resposta: sou homem ou sou mulher. Diz-se: sou engenheiro, electricista, médico. Só se é gente em referência ao trabalho. Um desempregado sente-se um pária e, todavia, ele é gente, a coisa mais extraordinária que se pode ser. Espero que as máquinas venham restituir às pessoas, aliviando-as do trabalho, a capacidade criativa, aquilo que nelas se oculta. Mas a transição parece-me estar a ser difícil porque as pessoas demoram muito tempo a render-se ao novo. Exigem provas seguras, entram com cautela no desconhecido."

    • Agostinho da Silva, AGOSTINHO, ENSINE-NOS (Entrevista a Lurdes Féria), 1986, in DISPERSOS, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1988, p. 113.
  • "Creio que uma das atitudes fundamentais do homem humano deve ser a de reconhecer em si, numa falta de compreensão ou numa falta de acção, a origem das deficiências que nota no ambiente em que vive; só começamos, na verdade, a melhorar quando deixamos de nos queixar dos outros para nos queixarmos de nós, quando nos resolvemos a fornecer nós mesmos ao mundo o que nos parece faltar-lhe; numa palavra, quando passamos de uma atitude de pessimista censura a uma atitude de criação optimista, optimista não quanto ao estado presente, mas quanto aos resultados futuros"
    ~ Agostinho da Silva, “Revolta”, Glossas [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp.58-59.

  • “Mas o mais grave é que o mesmo falar me parece de menor interesse; o que se tem de importante a participar, ou a comunicar, sempre as duas palavras no seu significado etimológico de fazer do outro uma parte de nós ou um comungante do que somos, isso se faz chegar e a nós volta, mais rico, muito mais pelo silêncio do que pela palavra, escrita ou falada; estas são quase sempre coisas de ponte de navio, como ordem de comando ou continência; servem para a acção e não a mais profunda, porque está essa, a essencial, no domínio das feitiçarias silenciosas ou, para os místicos, no aniquilar-se em Deus”
    ~ Agostinho da Silva, Educação de Portugal [1970], in Textos Pedagógicos II, pp.146-147.

  • "Nunca voltemos atrás
    tudo passou se passou
    livres amemos o tempo
    que ainda não começou."

    • Agostinho da Silva, Quadras Inéditas, Ulmeiro, 1990
  • "...embarcar, embarcar sempre, acreditando cada vez menos nos portos de chegada. (…) Não me tentam nada as estradas que vão de um porto a outro, de que sabemos à partida a quilometragem e a direcção; tentam-me as estradas que não vão dar a nenhum ponto.(…) embarcar num navio que nunca chegará, rumar por mapa e bússola ou goniómetro para o porto que não existe."

    • Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo
  • "Quem fala de amor não ama, verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoada aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama"

    • Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo.
  • "Foram muito modestas, em todos os tempos, as feministas quando defenderam que as mulheres eram tão inteligentes quanto os homens, porque na realidade o são mais; foram injustos os educadores quando defenderam que as crianças podem entender o mesmo que os adultos, porque na realidade podem entender mais. E [...] me pareceu sempre haver mais genial concentração na criança que brinca do que no sábio".
    ~ Agostinho da Silva, Alicerces da Paz, in As Aproximações, 1960.

  • "Os casos excepcionais são todos os que há no mundo. Cada um de nós, como homem, é inteiramente excepcional. Não há ninguém igual a cada um de nós em todos os milhões de homens que existem, nem fisicamente nem psicologicamente. Tudo é excepção. E todas as coisas que existem no mundo deviam ser excepções aplicadas a esses seres excepcionais. Simplesmente, as condições da sociedade em que vivemos obrigam todos nós a, lentamente, nos irmos parecendo uns com os outros.
    ~ Agostinho da Silva, "Entrevista"

  • "Uma só ordem de todas as religiões, uma ordem fundada nas três liberdades tradicionais e essenciais de não possuir coisas, de não possuir pessoas e de não se possuir a si próprio. Os três votos, como diríamos"
    ~ Agostinho da Silva, Considerando o Quinto Império, 1960, in Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira, I, organização e introdução de Paulo Borges, Lisboa, Âncora Editora, 2000, p.257.

  • “Revelação que os homens não têm querido ou não têm podido entender, de que a criança deve ser o modelo de vida e de que por ela se estabelecerá na Terra o Reino do Espírito Santo”
    ~ Agostinho da Silva, Considerando o Quinto Império, 1960.

  • “Divino Espírito Santo
    Senhor do imprevisível
    me toma pois da verdade
    só quero o que for incrível.”

    • Agostinho da Silva, Quadras Inéditas
  • "Mas, para outras formas de escravatura, os nossos olhos encontram-se inteiramente fechados; a nossa desculpa é que são formas mais subtis, mais continuadas e por assim dizer mais naturais de escravatura. Por exemplo, a das crianças, obrigadas a viver num mundo inteiramente construído para adultos e por eles inteiramente dirigido, o que explica que toda a fantasia, a liberdade de criação, a capacidade de atenção e a íntima delicadeza das crianças quase que inteiramente venham a desaparecer no adulto; por exemplo, a das mulheres adstritas a um trabalho doméstico que infinitamente e monotonamente recomeça, como se a sua única missão na vida fosse a de ter comida e alojamento prontos para um exército de trabalhadores; por exemplo, e ainda é talvez a mais grave, a escravatura a uma especialização exigida, por critérios de utilidade social, de homens, de seres humanos, criados para a infinita liberdade da totalidade das tarefas, para serem, dentro de seus limites de espaço e de tempo, a fiel imagem, e a adoradora imagem, da força, da possibilidade, da apetência infinita que os gerou."

    • Agostinho da Silva, "As Aproximações", 1960, in "Textos e Ensaios Filosóficos, II", Âncora Editora, 1999, pág. 20
  • "Morre menos gente de cancro ou de coração do que de não saber para que vive; e a velhice, no sentido de caducidade, de que tantos se vão, tem por origem exactamente isto: o cansaço de se não saber para que se está a viver."
    ~ Agostinho da Silva, As Aproximações

  • “É evidente que a nossa economia actual é a mesma, quer do lado capitalista, quer do lado a que se chama socialista ou comunista. (...) É uma economia do trabalho, da produção, do consumo, é uma economia de uma obrigação e que com a consciência leve toma conta da terra, como se a terra lhe pertencesse, toma conta das plantas, dos animais e dos homens no fim de tudo. São organizações, de um lado e do outro, que tomam conta de tudo o que está vivo e não só – o homem, por exemplo, vai demolir montanhas para tirar o ouro ou a prata, dominando o mundo num império brutal sobre as coisas; é extraordinário o que o homem faz com os animais – toda a gente quer pôr coisas internacionais para os direitos humanos, e os direitos dos bichos? Um dia vão ter... porque o que é isso de dominar cavalos ou cães e todas essas histórias!? Vão ter problemas complicados com isso, não é? Então eu gostaria que toda a gente começasse por ter a ideia de que ela própria é alguma coisa realmente imperial, autocrática e dominadora (...)”
    ~ Agostinho da Silva (com Henryk Siewierski), Vida Conversável, Sintra, Zéfiro, 2020, pp.14-15.

  • “O mais importante do mundo não é a Terra nem o Sol; o nosso navio não é, como tu julgas, este solo da Ática ou os muros de Esparta... Cada um de nós traz dentro da sua alma a galera que nenhuma tempestade há-de fazer naufragar; e o problema, para todo o homem que pense, está em alargar de tal modo que o seu convés possa acolher toda a imensa multidão dos seres, quando todos o tiverem conseguido – e com o homem, as árvores dos bosques, as aves dos céus, as pedras das montanhas – então, ó Crítias, o mundo será salvo. Apressemos a chegada da hora. Que a geração que vem depois de nós seja melhor do que a nossa.”

    • Agostinho da Silva, Pólicles, 1944
  • "Claro que sou cristão; e outra coisas, por exemplo budista, o que é, para tantos, ser ateísta; ou, outro exemplo, pagão. O que, tudo junto, dá português, na sua plena forma brasileira".
    ~ Agostinho da Silva

  • "Toda a gente sabe ser o tempo livre o pior presente que um homem pode receber. Suponhamos que se conseguia que todos os meninos tivessem, como agora se diz, sucesso escolar, mas, amanhã, não encontrando emprego, apenas lhe restava o tempo livre. Não possuindo nada para preencher esse tempo livre, fariam toda a espécie de disparates, desde o suicídio até ao assassínio dos outros. (...) O tempo livre, quando não se enche com coisa nenhuma, torna-se absolutamente insuportável, destruindo o indivíduo por completo. É a razão por que morre tanto reformado, já que, deixando de ter o seu emprego, se não encontrar novos objetivos na vida, a morte seguir-se-á rapidamente.
    O facto de haver desemprego no mundo é como o fermento que entrou na massa e faz o verdadeiro pão comido hoje por todos nós. A existência de desempregados irá obrigar o mundo a prover os indivíduos das artes e das ciências, de forma a permitir-lhes serem livres e criadores no tempo livre, assumindo na vida uma atitude completamente diferente, seja qual for a especialidade escolhida. As coisas vão mudar nesse sentido."

    • Agostinho da Silva, in Victor Mendanha - "Conversas com Agostinho da Silva" - pgs. 102/103)
  • "... A Europa não presta para nada, a Europa não se entende, porque está a querer fazer uma coisa nova com uma trapalhada velha... São aqueles estados centralistas do Luís XI, e aquela coisa toda... O que se deve é chegar a outra coisa muito importante: à liberdade cultural de cada homem! Já não se trata de esta região ou aquela ser desta ou daquela maneira: trata-se de ser à sua maneira cada pessoa! Temos de levar o mundo a um tal tipo de organização que permita a identidade cultural de cada homem, sem sofrer nenhuma espécie de atropelo. A liberdade cultural do Minho, ou da Catalunha, ou da Andaluzia, ou de qualquer coisa dessas, é apenas um degrau para passarmos ao último andar da casa, que é cada homem ter a sua plena liberdade cultural! Como se costuma dizer, fazer aquilo que lhe der na cabeça, ou no coração, ou nos pés, se preferir andar. Rumar exactamente como quiser rumar; e o mundo estar organizado de tal maneira que daí não resulte o caos, mas uma nova espécie de cosmos, isto é uma espécie de nova ordem. Que resulte um mundo que continue a ser mundo. As pessoas não se lembram que "mundo" é a palavra contrária de "imundo". O Camões usa o adjectivo "as mundas almas", as almas puras que estão no céu, "as mundas almas"... Mundo é um adjectivo, é o contrário de imundo. Nós não queremos um mundo imundo, queremos conservar o mundo cada vez mais mundo, cada vez mais puro... É preciso que cada pessoa seja cada vez mais pura. E o que é ser cada vez mais puro? É ser cada vez mais ele."

    • Agostinho da Silva, numa conversa com Gil de Carvalho e Manuel Hermínio publicada em "Ir à Índia sem abandonar Portugal" in "Ir à Índia sem Abandonar Portugal, Considerações e Outros Textos", Assírio & Alvim, 1994, p. 44
  • "O que eu lhe dizia, caro Amigo, é que me parece que ao verdadeiro Amor corresponde o silêncio; a perfeita vibração diante de uma flor ou de um pôr-do-sol ou de uma libélula sobre as águas de um ribeiro ou, o que mais vale, diante de uma mulher, traz consigo uma inibição de todas as funções de relação; não se diz nada à rosa, não se diz nada à mulher e, com muito mais razão, não se diz nada aos amigos, não se lhes comunica, com esse entusiasmo, com que você o faz, que se nadou no azul dos céus ou totalmente nos fundimos no grande corpo de Deméter. Os mais fracos correm diante das suas emoções uma porta ondulada de ironia. Os mais fortes, porém, e eu desejo que você seja dos mais fortes, encerram-se num palácio de silêncio”
    ~ Agostinho da Silva, in Sete Cartas a um Jovem Filósofo [Textos e Ensaios Filosóficos I, Âncora Editora, pp. 240-24]

  • “A fadiga que esmaga um corpo depois de oito ou dez horas em frente de um volante ou de um dia inteiro na faina do campo é um crime contra o Jeová que nos criou à sua imagem, um sacrilégio contra a partícula de fogo eterno que palpita por favor dos deuses em cada um de nós (…) A reconquista do Éden comportaria para o homem a libertação do trabalho, lavá-lo-ia dessa mancha de animal doméstico sob o jugo, havia de o restituir ao que é o seu essencial carácter: o ser pensante”
    ~ Agostinho da Silva, “Ir à Índia Sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos”

  • “O homem não nasce para trabalhar, nasce para criar, para ser o tal poeta à solta”

    • Agostinho da Silva
  • “(...) seja qual for o nome dado ao Divino ele apenas consegue tornar a situação ainda mais difícil porque, diante do Divino, só o silêncio é capaz de o exprimir.
    Sobretudo, não nos sendo possível imaginar o futuro da Humanidade, é conveniente assumir a humildade externa e interna capaz de levar a pessoa a sentir-se mais nada além de um clarão do Divino.
    Um clarão do Divino e nada mais”
    ~ Agostinho da Siva, in Victor Mendanha, Conversas com Agostinho da Silva, Lisboa, Pergaminho, 1994, pp.103-104.

  • “É necessário, igualmente, pôr esse ponto: ver no diferente o que existe de fundamental e dirigirmo-nos a esse fundamental.
    Só quando o homem se dirigir ao seu fundamental é que se cumpre”
    ~ Agostinho da Silva, in Conversas com Victor Mendanha, Lisboa, Pergaminho, 1994, p.109

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