"Haja o que houver, seja qual for o regime, por maiores que sejam a cordialidade e a liberdade, está o povo sempre do lado que apanha, do lado de cá das mesas de exame e do lado de fora dos postigos burocráticos; do lado do cérebro desempregado, do coração prisioneiro, do estômago insatisfeito. O objectivo final, portanto, é o de que não haja povo, de que não haja diferenças económicas, nem culturais nem sociais: do que são sinónimos, nos vários dialectos, sociedade sem classes, reino de Deus, acracia ou anarquia, e até o Quinto Império, do Vieira a Pessoa"
Agostinho da Silva, Pensamento em Farmácia de Província, 1 [1977], in Textos e Ensaios Filosóficos II, p.355.
“O educador tem nas mãos a chave do futuro; do que ele fizer dependerá tudo o resto, porque nenhum sistema político, nenhuma organização económica, nenhuma pregação moral poderão dar resultados duradouros e profundos se um trabalho de educação prévio lhes não fornecer um ambiente favorável, se não existirem já os homens de boa vontade e de claro espírito dispostos a apoiá-los e fixá-los nas massas; o país que se queira renovar tem de dar aos seus mestres, na organização geral, um lugar de primeiro plano; e nenhum encontrará melhor meio de se suicidar do que tratar com desprezo aqueles que trabalham realmente por um futuro melhor”.
Agostinho da Silva, Sanderson e a Escola de Oundle, 1941
"Se o ideal último do Português é reconquistar o Paraíso e entrar naquele despojar-se de espaço e tempo a que Luís de Camões preludiou com a Ilha dos Amores, serão dispensáveis as guerras e terão sido os melhores militares os que têm visto a sua missão como sendo essencialmente a de manutenção da Paz, para que o mundo se vá construindo, não os que são tentados pelas aventuras ou pelos lucros das guerras"
~ Agostinho da Silva, in Educação de Portugal (1970)
"Procura considerares-te inexistente e assim, ao contrário do que pensava Nietzsche, nunca serás, com teu interesse e serviço dos outros um desprezador tirano de ti próprio. Procura realizar-te nos outros, em todos os outros, e só assim serás totalmente vário, como deves, em honra do Espírito Santo que em ti habita."
"As qualidades infantis deveriam conservar-se até à morte, como qualidades distintivamente humanas - as da imaginação, em vez do saber, do jogo, em vez do trabalho, da totalidade, em vez da separação. São essas, e não as outras, as que têm demonstrado os grandes criadores de ciência, os grandes artistas ou os grandes políticos. Por isso os perseguimos quando vivos e os aproveitamos, porque já eficientes, quando seguramente mortos. Não haverá salvação para o mundo enquanto não entendermos e fizermos penetrar em nossas consciências este facto basilar, e enquanto as nossas escolas, transformando-se inteiramente, não forem, em lugar de máquinas de fabricar adultos, viveiros de conservar crianças; enquanto não forem as crianças que nos levem, não pelo caminho que uma ciência fáustica previu, mas pelo que houver, dando a mão, ao mesmo tempo, a nós e às coisas; enquanto não for o Menino Jesus o nosso Deus verdadeiro."
Agostinho da Silva, Um Fernando Pessoa [1959], in Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira I, pp.115-116.
"Atribuiria às Faculdades de Filosofia, no seu labor retirado, talvez pouco brilhante e talvez pouco popular, a missão de pavimentar os caminhos para os futuros santos de Deus e chamaria a prepará-los todos aqueles que poderiam tomar como a mais importante de todas as técnicas a de dar espírito às técnicas e como a mais perfeita de todas as vidas a que abriria as portas de uma vida futura verdadeiramente digna de homens; aqueles em que brilha acima de todas as flamas uma centelha de ideal, a quem o mundo não satisfaz e têm no entanto a certeza de que é possível torná-lo mais belo e melhor."
Agostinho da Silva, "O valor atual das Faculdades de Filosofia", 1953, in "Presença de Agostinho da Silva no Brasil", org. Amândio Silva e Pedro Agostinho, Edições Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro, 2007, p. 80.
“O homem e a Natureza não são forças distintas, irredutíveis em face uma da outra; a vontade individual é um elemento da Natureza, agindo por si, mas vencido se contra ele se ligarem todos os outros; os deuses revelam o fim a que tendem as outras forças da Natureza: se o homem quiser conformar com elas a sua vontade, terá o bem, no caso contrário, o mal.”
Agostinho da Silva, “A Religião Grega” in Estudos sobre Cultura Clássica, Âncora Editora, 2002, p.180.
"Por causa do mundo curvo
eis aqui o que procuro
ter eu amor do passado
com a paixão do futuro
mas há remédio bem simples
para não ser inseguro
é amar vida sem tempo
ou seja o presente puro."
Agostinho da Silva, Uns Poemas de Agostinho, 4ª ed., Ulmeiro, 1997, p. 83.
“Se por dentro te sentires feliz e por fora te virem infeliz, enganarás os homens e os deuses; e serás, como o boi e o burro, dos que bafejam o Menino que nasce”.
"No Político, distingo dois momentos, o do presente e o do futuro. Principiando pelo segundo desejo o desaparecimento do Estado, da Economia, da Educação, da Sociedade e da Metafísica; quero que cada indivíduo se governe por si próprio, sendo sempre o melhor que é, que tudo seja de todos, repousando toda a produção por um lado no amador, por outro lado na fábrica automática, que a criança cresça naturalmente segundo suas apetências sem as várias formas da cópia e do ditado que têm sido as escolas, públicas e de casa, que o social, com as suas regras, entraves e objectivos dê lugar ao grupo humano que tenha por meta fundamental viver na liberdade e que todos, em vez de terem metafísica, religiosa ou não, sejam metafísica."
Agostinho da Silva, Pensamento à Solta, Textos e Ensaios Filosóficos II, 1º ed., Âncora Editora, 1999, pp. 175 e 176.
"Creio que uma das atitudes fundamentais do homem humano deve ser a de reconhecer em si, numa falta de compreensão ou numa falta de acção, a origem das deficiências que nota no ambiente em que vive; só começamos, na verdade, a melhorar quando deixamos de nos queixar dos outros para nos queixar de nós, quando nos resolvemos a fornecer nós mesmos ao mundo o que nos parece faltar-lhe; numa palavra, quando passamos de uma atitude de pessimista censura a uma atitude de criação optimista, optimista não quanto ao estado presente, mas quanto aos resultados futuros."
Agostinho da Silva, REVOLTA, GLOSSAS (1945) in TEXTOS E ENSAIOS FILOSÓFICOS I, 1º ed., Âncora Editora, 1999, pp. 58 e 59.
Obrigado Moderador pelos posts. Importante que as novas geracoes conheçam este grande pensador português que andou pela Lusofonia. Viveu em Moçambique também...
Sempre meio paria da sociedade e classe politica, consta que Salazar teve que se reunir com ele as escondidas... Talvez tenha perdido a mao a PIDE...
Este Homem maior, de aparência e comportamento sempre humilde foi um dos últimos bastiões do V Império e da missao portuguesa no Mundo. O de quebrar preconceitos e tabus, aproximar gentes de todas etnias e tradicoes e Re-Inventar um mundo novo, de Justiça, Fraternidade e Liberdade.
Vai demorar muitos séculos ate que percebam as ideias deste homem. Seculos, milenios ou nunca mesmo, porque ha 2000 anos veio O Maior dos Homens e ainda hoje o crucificam e muitos ganham a custa dele...
Comentários
"Haja o que houver, seja qual for o regime, por maiores que sejam a cordialidade e a liberdade, está o povo sempre do lado que apanha, do lado de cá das mesas de exame e do lado de fora dos postigos burocráticos; do lado do cérebro desempregado, do coração prisioneiro, do estômago insatisfeito. O objectivo final, portanto, é o de que não haja povo, de que não haja diferenças económicas, nem culturais nem sociais: do que são sinónimos, nos vários dialectos, sociedade sem classes, reino de Deus, acracia ou anarquia, e até o Quinto Império, do Vieira a Pessoa"
“O educador tem nas mãos a chave do futuro; do que ele fizer dependerá tudo o resto, porque nenhum sistema político, nenhuma organização económica, nenhuma pregação moral poderão dar resultados duradouros e profundos se um trabalho de educação prévio lhes não fornecer um ambiente favorável, se não existirem já os homens de boa vontade e de claro espírito dispostos a apoiá-los e fixá-los nas massas; o país que se queira renovar tem de dar aos seus mestres, na organização geral, um lugar de primeiro plano; e nenhum encontrará melhor meio de se suicidar do que tratar com desprezo aqueles que trabalham realmente por um futuro melhor”.
"Se o ideal último do Português é reconquistar o Paraíso e entrar naquele despojar-se de espaço e tempo a que Luís de Camões preludiou com a Ilha dos Amores, serão dispensáveis as guerras e terão sido os melhores militares os que têm visto a sua missão como sendo essencialmente a de manutenção da Paz, para que o mundo se vá construindo, não os que são tentados pelas aventuras ou pelos lucros das guerras"
~ Agostinho da Silva, in Educação de Portugal (1970)
"Procura considerares-te inexistente e assim, ao contrário do que pensava Nietzsche, nunca serás, com teu interesse e serviço dos outros um desprezador tirano de ti próprio. Procura realizar-te nos outros, em todos os outros, e só assim serás totalmente vário, como deves, em honra do Espírito Santo que em ti habita."
"As qualidades infantis deveriam conservar-se até à morte, como qualidades distintivamente humanas - as da imaginação, em vez do saber, do jogo, em vez do trabalho, da totalidade, em vez da separação. São essas, e não as outras, as que têm demonstrado os grandes criadores de ciência, os grandes artistas ou os grandes políticos. Por isso os perseguimos quando vivos e os aproveitamos, porque já eficientes, quando seguramente mortos. Não haverá salvação para o mundo enquanto não entendermos e fizermos penetrar em nossas consciências este facto basilar, e enquanto as nossas escolas, transformando-se inteiramente, não forem, em lugar de máquinas de fabricar adultos, viveiros de conservar crianças; enquanto não forem as crianças que nos levem, não pelo caminho que uma ciência fáustica previu, mas pelo que houver, dando a mão, ao mesmo tempo, a nós e às coisas; enquanto não for o Menino Jesus o nosso Deus verdadeiro."
"Atribuiria às Faculdades de Filosofia, no seu labor retirado, talvez pouco brilhante e talvez pouco popular, a missão de pavimentar os caminhos para os futuros santos de Deus e chamaria a prepará-los todos aqueles que poderiam tomar como a mais importante de todas as técnicas a de dar espírito às técnicas e como a mais perfeita de todas as vidas a que abriria as portas de uma vida futura verdadeiramente digna de homens; aqueles em que brilha acima de todas as flamas uma centelha de ideal, a quem o mundo não satisfaz e têm no entanto a certeza de que é possível torná-lo mais belo e melhor."
“O homem e a Natureza não são forças distintas, irredutíveis em face uma da outra; a vontade individual é um elemento da Natureza, agindo por si, mas vencido se contra ele se ligarem todos os outros; os deuses revelam o fim a que tendem as outras forças da Natureza: se o homem quiser conformar com elas a sua vontade, terá o bem, no caso contrário, o mal.”
"Por causa do mundo curvo
eis aqui o que procuro
ter eu amor do passado
com a paixão do futuro
mas há remédio bem simples
para não ser inseguro
é amar vida sem tempo
ou seja o presente puro."
"A grande diferença entre o inteligente e o estúpido - entre o chamado inteligente e o chamado estúpido - é que o primeiro se esforça."
“Nascer não é uma fatalidade, mas uma escolha pré-consciente, daquela consciência que se perde quando se voa do Céu para a Terra, como dizia Platão”
“Se por dentro te sentires feliz e por fora te virem infeliz, enganarás os homens e os deuses; e serás, como o boi e o burro, dos que bafejam o Menino que nasce”.
"No Político, distingo dois momentos, o do presente e o do futuro. Principiando pelo segundo desejo o desaparecimento do Estado, da Economia, da Educação, da Sociedade e da Metafísica; quero que cada indivíduo se governe por si próprio, sendo sempre o melhor que é, que tudo seja de todos, repousando toda a produção por um lado no amador, por outro lado na fábrica automática, que a criança cresça naturalmente segundo suas apetências sem as várias formas da cópia e do ditado que têm sido as escolas, públicas e de casa, que o social, com as suas regras, entraves e objectivos dê lugar ao grupo humano que tenha por meta fundamental viver na liberdade e que todos, em vez de terem metafísica, religiosa ou não, sejam metafísica."
"Creio que uma das atitudes fundamentais do homem humano deve ser a de reconhecer em si, numa falta de compreensão ou numa falta de acção, a origem das deficiências que nota no ambiente em que vive; só começamos, na verdade, a melhorar quando deixamos de nos queixar dos outros para nos queixar de nós, quando nos resolvemos a fornecer nós mesmos ao mundo o que nos parece faltar-lhe; numa palavra, quando passamos de uma atitude de pessimista censura a uma atitude de criação optimista, optimista não quanto ao estado presente, mas quanto aos resultados futuros."
Obrigado Moderador pelos posts. Importante que as novas geracoes conheçam este grande pensador português que andou pela Lusofonia. Viveu em Moçambique também...
Sempre meio paria da sociedade e classe politica, consta que Salazar teve que se reunir com ele as escondidas... Talvez tenha perdido a mao a PIDE...
Este Homem maior, de aparência e comportamento sempre humilde foi um dos últimos bastiões do V Império e da missao portuguesa no Mundo. O de quebrar preconceitos e tabus, aproximar gentes de todas etnias e tradicoes e Re-Inventar um mundo novo, de Justiça, Fraternidade e Liberdade.
Vai demorar muitos séculos ate que percebam as ideias deste homem. Seculos, milenios ou nunca mesmo, porque ha 2000 anos veio O Maior dos Homens e ainda hoje o crucificam e muitos ganham a custa dele...